Jamais foi novidade que, em algum momento, o ex-presidente Lula capitalizaria politicamente a morte da sua esposa, Marisa Letícia Lula da Silva, vítima das complicações de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH). O ex-metalúrgico não esperou sequer aguardou a cerimônia de cremação para pegar carona na morte da ex-primeira-dama.
Ainda no velório, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula fez um discurso eminentemente político e, em claro recado ao juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos resultantes da Operação Lava-Jato, disse que não temia ser preso. Ao que se sabe, até o momento Moro não esboçou qualquer sinal de que Lula será preso, o que não invalida o desejo maiúsculo da população brasileira.
Contudo, a coragem de Lula durou pouco, assim como nada duram o seus discursos populistas e marcados pela mitomania. Por meio de um grupo de caros advogados que o defendem na Lava-Jato, Lula solicitou ao juiz Sérgio Moro o adiamento de audiências de testemunhas de defesa em razão da morte de Marisa Letícia.
O processo em questão é o que Lula aparece como réu por corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o recebimento de R$ 3,8 milhões em propina da OAS, através da reforma e ampliação de apartamento triplex no Edifício Solaris, em Guarujá, no litoral paulista, e do custeio do armazenamento de bens pessoais do petista em empresa especializada.
“Pleiteia a Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva a redesignação das audiências marcadas para as próximas duas semanas ‘tendo em vista motivos pessoais relevantes que prejudicam o contato do peticionário com sua defesa técnica e, por conseguinte, impede que esta última possa se preparar adequadamente para tais audiências”, destacou Moro em seu despacho.
Ao negar o pedido dos advogados de Lula, o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba assinalou: “Apesar de trágico e lamentável acontecimento, há diversas audiências já designadas, com dezenas de testemunhas, e para as quais foram realizadas dezenas de diligências por este Juízo e pelos diversos Juízos deprecados para a sua viabilização. Assim, indefiro o requerido.”
Lula é um alarife experimentado que sabe como jogar com fatos e polêmicas, pois do contrário não teria vencido o mar de lama em que se transformou a política nacional e chegado à Presidência da República.
É direito do ex-presidente, na condição de réu, fazer alegações das mais diversas, podendo, inclusive, faltar com a verdade, mas é pífia a desculpa de que a morte da esposa configurava impedimento para as mencionadas audiências.
Dona Marisa estava internada na capital paulista, entre a vida e a morte (a morte cerebral já era conhecida, mesmo não oficializada), quando Lula deixou o Hospital Sírio-Libanês para uma reunião no instituto que leva o seu nome. Às 15 horas do dia 1º de fevereiro, Lula, no encontro, tratou da atuação do PT na eleição do presidente da Câmara dos Deputados, que ocorreu no dia seguinte. Ou seja, os aludidos “motivos pessoais relevantes” eram mais um embuste com a digital do ex-metalúrgico.