Quando o assunto é política internacional, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, age como se fosse um orangotango enfurecido em loja de cristais, tamanha é a bizarrice do republicano.
Nesta quarta-feira (15), durante encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA defendeu a tese de que a paz no Oriente Médio independe de um Estado palestino. Ou seja, Trump, no encontro realizado na Casa Branca, mandou pelos ares o compromisso americano com o Estado palestino, sinalizando radical ruptura com uma política de décadas para o processo de paz na região.
“Estou considerando a [solução de] um Estado ou de dois Estados e prefiro aquela que ambas as partes preferirem. Posso viver bem com qualquer uma das duas”, disse Trump em entrevista, ao lado de Netanyahu.
“Durante um tempo pensei que a de dois Estados parecia ser a mais fácil para os dois, mas, honestamente, se Bibi [Netanyahu] e os palestinos estiverem contentes, estarei contente com a [solução] que eles preferirem”, disse o apasquinado Trump.
O encontro desta quarta-feira foi o primeiro entre os dois líderes desde a vitória de Donald na corrida presidencial. Na entrevista, após a reunião, o presidente americano prometeu trabalhar em prol de um acordo de paz entre israelenses e palestinos, mas afirmou que cabe às duas partes costurar um acordo. Em suma, Trump quer ver o Oriente Médio pegar fogo, sendo que as labaredas em algum momento alcançarão os Estados Unidos.
Assentamentos israelenses
O presidente dos EUA pediu a Netanyahu para que suspendesse o avanço dos assentamentos israelenses. O premiê de Israel, que desde a posse de Trump vem aprovando a construção de milhares de casas Cisjordânia e em Jerusalém Ocidental, insistiu que os assentamentos “não são o ponto central do conflito” entre israelenses e palestinos, por isso não assumiu o compromisso de reduzi-los.
Apesar da promessa de esforços em busca da paz e de que um “grande acordo” será alcançado, Trump não explicou como será possível desbloquear o processo de paz na esteira de proposta tão absurda. “Como em qualquer negociação bem-sucedida, ambos os lados precisam ceder”, afirmou Trump, que continua acreditando que governar a maior potência global é como administrar um cassino decadente.
Mudando de lado
Antes da chegada de Netanyahu à Casa Branca, um destacado integrante do governo Trump afirmou que a paz no Oriente Médio não depende obrigatoriamente de um Estado palestino, mas que o presidente não tentaria impor qualquer solução. Em outras palavras, Trump joga combustível na fogueira ardente, mas não explica como apagar o fogo em caso de emergência.
Ao longo de décadas, a posição dos Estados Unidos em relação ao tema foi de que os dois lados deveriam negociar a formação um Estado palestino independente, premissa que balizou todas as negociações de paz para a região.
Durante a campanha eleitoral, Donald Trump não teve problemas para mostrar sua preferência por Israel. Ele endossou David Friedman, conhecido e radical defensor dos assentamentos judaicos, e prometeu, por exemplo, transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém – medida que está aparentemente suspensa, mas que ele garantiu que será colocada em prática em algum momento.
Em 2009, Benjamin Netanyahu comprometeu-se publicamente com a busca de uma solução de paz com base na existência de dois Estados, desde que respeitadas algumas condições, reiterando por diversas vezes, desde então, o compromisso assumido. No entanto, com o avanço do tempo o premiê israelense passou a sugerir que caberia eventualmente aos palestinos um Estado sem soberania total.
Quem conhece a região e seus conflitos, que já duram longas décadas, sabe que não há a menor chance de um acordo de paz prosperar na esteira da estapafúrdia e irresponsável proposta de Donald Trump, que está a despejar sobre os palestinos sua conhecida e colérica intolerância.
Acreditando ser o último gênio da raça humana e agindo como se fosse o dono do universo, Trump vem mostrando ao mundo sua falta de traquejo para estar na Casa Branca, cargo ao qual ascendeu no vácuo da notória incompetência de Hillary Clinton, sua adversária, como candidata. (Com agências internacionais)