Encalacrado na Custo Brasil, advogado de Gleisi é alvo de investigações por fraudes no transporte coletivo

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O advogado paranaense Guilherme Gonçalves foi alvo de mandado de condução coercitiva, ainda não cumprido, no âmbito da segunda fase da Operação Riquixá, que investiga a existência de organização criminosa no transporte coletivo em cidades do Paraná e também no Distrito Federal. Gonçalves foi advogado da senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT), ré por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) e que está, juntamente com o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva, com os bens bloqueados pela Justiça.

Gonçalves chegou a ter mandado de prisão expedido durante a Operação Custo Brasil. Ele atuaria como “laranja”, repassando dinheiro subtraído de servidores e aposentados que recorreram a empréstimos consignados. O esquema, comandado por Paulo Bernardo, segundo as investigações, desviou mais de R$ 100 milhões através do sistema Consist. Apesar de formalmente ser advogado da senadora, Guilherme Gonçalves de forma estranha pagava as contas da petista, inclusive o salário do motorista, quando na verdade deveria receber honorários.

Acompanhadas de um advogado, as equipes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram mandados de busca e apreensão na casa e no escritório de Gonçalves. Ele ainda não foi ouvido por estar fora da capital paranaense, mas já afirmou que seu advogado negocia uma data para depoimento.

Guilherme Gonçalves foi sócio do também advogado Sacha Reck, que chegou a ser preso durante a primeira fase da Operação Riquixá. Eles desfizeram a sociedade em dezembro de 2013, mês em que o escritório deixou advocatício de atender o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Curitiba e Região (Setransp). Àquela altura, a licitação do transporte coletivo de Guarapuava já havia sido consumada. A concorrência suspeita de fraude ocorreu em 2009.

Tanto Gonçalves quanto Reck chegaram a ser investigados pela Operação Lava-Jato. O escritório da dupla seria uma das empresas indicadas pelo operador Alexandre Romano, o “Chambinho”, para receber recursos oriundos de desvios efetuados por uma empresa do grupo Consist, que atua na área de informática. Tanto o novo escritório de Gonçalves quanto o de Reck foram alvo de mandados de busca e apreensão durante a 18ª fase da Lava-Jato, batizada como Pixuleco II. Mais tarde, o caso Consist passou para a Justiça Federal de São Paulo.


Em junho de 2016, Guilherme Gonçalves foi alvo de mandado de prisão por conta de documentos e controles apreendidos no seu escritório em agosto de 2015. Essas provas mostrariam, segundo a investigação, repasses da empresa Consist que podem ter ligação com o pagamento de honorários de campanhas da senadora Gleisi Helena. De acordo com os investigadores, Gonçalves seria o responsável por administrar o “Fundo Consist”.

Na área do transporte coletivo, Reck já havia sido denunciado à Justiça pelo Ministério Público devido à possível atuação como consultor na elaboração do edital de licitação de Guarapuava e atendido à empresa que venceu a concorrência. A mesma suspeita paira sobre o advogado no Distrito Federal. Sacha Reck não foi alvo da segunda fase da operação. Em entrevista concedida antes da deflagração da primeira fase, Reck havia negado irregularidades em sua atuação no procedimento licitatório de Brasília.

O advogado Guilherme Gonçalves defendeu a senadora Gleisi Hoffmann (PT) na campanha de 2014 para o governo do Paraná e também o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Jr. (PSC), na disputa pela prefeitura de Curitiba em 2012.

Outro lado

Procurado, o advogado Guilherme Gonçalves afirmou que, “desde 2008, de forma verbal, e 2011, oficializado em contrato” houve uma “distinção de responsabilidades” no seu escritório em sociedade com Sacha Reck, sendo que ele – Gonçalves – era responsável pelo Direito Eleitoral e seu sócio pela questão do transporte coletivo.

O advogado nega ter participado de qualquer reunião com o intuito de fraudar licitações de ônibus. “Ele [Rech] já tentou me denunciar, me envolver em irregularidades várias vezes, talvez por raiva, por algum ato de vingança, para querer me chamar para dentro da confusão que ele fez e diminuir a responsabilidade dele”, disse Gonçalves, que afirmou estar à disposição da Justiça e que seu advogado já está marcando seu depoimento às autoridades que investigam o esquema apurado pela Operação Riquixá II.

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