Apesar das previsões otimistas do governo e do mercado financeiro, crise avança sem piedade

Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff não apenas ancoraram o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, mas patrocinaram uma histórica implosão da economia brasileira, que experimenta dois anos de recessão econômica. Em 2015, o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,8%, enquanto que no ano passado a queda estimada é de 3,7%. Os efeitos colaterais desse estrago são enormes e continuam provocando estragos no mercado.

O governo de Michel Temer tem anunciado que a economia nacional ingressou em fase de recuperação, mas não é essa a realidade do cotidiano. Até porque, depois de dois anos seguidos de encolhimento do PIB, nenhum membro da equipe econômica do governo chegou à Esplanada dos Ministérios com varinha de condão. A única medida oficial adotada até agora, desde a chegada de Temer ao principal gabinete do Palácio do Planalto, foi a fixação de um limite de gastos para os próximos vinte anos.

Com uma só medida, afirmar que a economia está a se recuperar é ignorar a realidade e ludibriar a população. Quem vai rotineiramente às compras sabe que os preços continuam a subir, apesar dos anúncios do Banco Central de que a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, está em rota de queda.

Não se trata de contestar o recuo da inflação, até porque isso vem acontecendo de fato, mas de ressaltar os verdadeiros motivos desse movimento descendente. O IPCA vem caindo por causa da recessão, do desemprego elevado e da perda do poder de compra dos salários. O consumo em todos os segmentos caiu de forma assustadora, inclusive no setor de serviços, última trincheira a enfrentar a crise. A recessão econômica que chacoalha o País é tão intensa, que já é classificada como a maior desde 1930.

Enquanto o brasileiro se desespera diante dos desdobramentos da crise, analistas do mercado financeiro, ouvidos na última semana pelo Banco Central, apostam em crescimento de 0,49% do PIB, em 2017, contra 0,48% da previsão anterior. O governo previa crescimento da economia na casa de 1%, mas o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) já admite reduzir o índice para baixo. Considerando que ainda falta oito meses e meio para o final do corrente anos, muitas surpresas desagradáveis pode surgir ao longo do caminho.

Em relação ao IPCA, os economistas das cem maiores instituições financeiras em atividade no País mantiveram a previsão, para 2017, de inflação no patamar de 4,36%. Por outro lado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) destacou na última ata do colegiado, divulgada no último dia 2 deste mês, que pode acelerar o ritmo de corte da taxa básica de juro, a Selic.


Nesse conturbado cenário não há mágica nem milagre. A possibilidade que o Copom vê de cortar de forma mais rápida a Selic é fruto da queda no consumo. O que vem aumentando a oferta diante de um consumidor cada vez mais assustado.

Alguém há de afirmar que esta leitura do cenário econômico é fruto do pessimismo do UCHO.INFO, mas os números não mentem, assim como não faltam com a verdade diversos fatos do cotidiano. Em janeiro passado, o Brasil fechou 48 mil vagas de trabalho formal. O que significa que perto de 13 milhões de brasileiros estão fora do mercado de trabalho. Sem contar o desemprego ampliado, que considera também os profissionais subaproveitados, ou seja, que trabalham menos do que gostariam.

Uma das datas comerciais mais importantes do calendário verde-louro, a Páscoa deste ano corre o sério risco de ser pior do que a do ano anterior em termos de vendas. Nos supermercados as áreas destinadas aos outrora cobiçados ovos de Páscoa estão acanhadas. E os fabricantes de chocolate já afirmaram que contratarão menos trabalhadores do que em anos anteriores.

Também nos supermercados predominam os clientes assustados com os preços, sendo obrigados a malabarismos consumistas e substituição de marcas e produtos. Até recentemente, os supermercados estavam cheios porque o brasileiro trocou os restaurantes por refeições caseiras, mesmo com o benefício do chamado vale-refeição que contempla milhões de trabalhadores.

Na cidade de São Paulo, conhecida nacionalmente por sua diversidade gastronômica e pela quantidade de opções, restaurantes têm recebido cada vez menos clientes. Empresários do setor, que não sabem mais o que inventar para atrair clientes, já pensam em fechar as portas – algo que muitos já fizeram. Quem circula pela capital paulista em todas as suas regiões não demora a perceber que os restaurantes estão vazios. É fato que houve uma mudança de hábitos, com direito à substituição de restaurantes caros por lanchonetes. Acontece que até as lanchonetes já começam a sentir a queda no número de clientes.

Depois de dois anos de recessão, o governo de Michel Temer precisa adotar com urgência alguma medida que minimize o calvário do brasileiro, sob pena de a crise aumentar ainda mais por conta dos cidadãos que serão dragados por uma roda viva implacável e impiedosa. Aguardar mais alguns meses pela chamada “luz no fim do túnel” é exigir demais de uma população que, após cair na esparrela de Dilma Rousseff, agora confere as mazelas de uma política econômica desastrada, mentirosa e populista.

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