Carne Fraca: Michel Temer continua preocupado com as exportações, não com os consumidores

Em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, da GloboNews, na quarta-feira (22), o presidente Michel Temer falou sobre vários temas, mas deu especial destaque à Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deflagrada na última semana e que gerou indignação na opinião pública e no mercado internacional de proteína animal.

Temer afirmou que o “espetáculo” do anúncio da Carne Fraca “gerou um problema internacional” que provoca prejuízos ao Brasil. Alegando ter encarado o episódio com “tristeza cívica”, o presidente da República disse que, apesar da dimensão dada aos resultados da operação da PF, apenas um reduzido número de funcionários e empresas está sob investigação.

“Não estamos aqui dizendo que, se houver irregularidade, não tem que ser punida, ao contrário. Isso [o espetáculo] que não fez bem porque gerou um problema internacional”, disse Temer.

Para exemplificar sua preocupação com os efeitos colaterais da operação policial, o presidente ressaltou que o Brasil exporta anualmente US$ 2 bilhões em proteína animal para a China, que suspendeu temporariamente a compra do produto.

Não se pode ignorar a importância do setor frigorífico no bojo da economia nacional, mas é preciso, antes de qualquer comentário, preocupar-se com a saúde dos consumidores, em especial a dos brasileiros, que consomem a maior parte da carne produzida no País.


As empresas investigadas afirmaram, por meio de comunicados e campanhas publicitárias, que seguem os mais rígidos padrões de segurança e higiene na no processamento de carnes e na produção de derivados, mas há nessa epopeia um detalhe estranho que ainda não foi questionado.

Se a produção de alimentos acontecia dentro do que determina a legislação sanitária e outras regras, não havia razão para as empresas pagaram propina aos fiscais agropecuários. No momento em que a corrupção – ativa e passiva – encontra espaço para prosperar, não há outra saída que não a de acreditar que algo errado existia no setor.

Faz-se necessário lembrar que o setor de proteína animal no Brasil é um negcio milionário, principalmente no mercado interno, pois a carne é, por razões culturais, presença constante no cardápio de um país que tem mais de 200 milhões de habitantes. Isso significa que em razão do lucro algumas regras podem ser violadas e leis, desrespeitadas.

Em suma, Michel Temer tem o dever de estar preocupado com os prejuízos causados pela Operação Carne Franca ao setor, mas já poderia ter externado preocupação com os consumidores brasileiros, que não podem pagar caro por produtos emoldurados pela suspeita.

É fato que ocorreram falhas durante o anúncio dos resultados da investigação, mas essa altura dos acontecimentos querer culpar a Polícia Federal pelas falcatruas é no mínimo irresponsabilidade.

apoio_04