Folha abusa da irresponsabilidade jornalística ao detalhar decisão judicial que beneficiou Adriana Ancelmo

Sob a desculpa de que a população precisa estar informada sobre o que acontece nos bastidores da política, a imprensa nacional fica a espreitar o surgimento de um escândalo novo ou de um detalhe supostamente polêmico de um fato conhecido, quando na verdade seu papel seria defender os direitos dos indivíduos. Afinal, segundo a Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

Diferentemente de ser o quarto poder, como sugerem alguns, a imprensa deveria dedicar-se à missão de levar a cada brasileiro a melhor informação, sem rapapés que servem para nada. Na edição desta terça-feira (28), a coluna Painel, do jornal “Folha de S. Paulo”, traz a informação de que a decisão judicial que concedeu o direito de prisão domiciliar à advogada Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro e presa na Operação Calicute (desdobramento da Operação Lava-Jato), foi tomada em Paris.

Com o advento da internet, os locais perderam os muros e o planeta, as fronteiras. No rastro do avanço tecnológico, a assinatura digital permite que decisões legais, no âmbito do Estado, sejam tomadas sem perda de tempo, evitando prejuízo ao cidadão.

O caso de Adriana Ancelmo foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e encontra-se sob a responsabilidade da ministra Maria Thereza de Assis Moura, que por ocasião da decisão estava em missão oficial na capital francesa. Como a legislação vigente no País permite esse tipo de ação, não há razão para contestá-la ou criar “fumaça” a partir da mesma. O que a imprensa deveria fazer é comemorar a celeridade que marcou a tomada de decisão, até porque o Brasil é conhecido pela modorrenta morosidade do Judiciário.


Em vez de tentar causar polêmica a partir do benefício legal concedido a Adriana Ancelmo, os veículos de comunicação e seus profissionais deveriam liderar um movimento para que tal direito seja estendido a todas as mulheres encarceradas que encontram-se na mesma situação: com filhos menores privados simultaneamente da convivência do pai e da mãe, desde que respeitadas algumas condições.

Se no caso em questão o benefício só é concedido a quem se faz representar por advogados privados, a defensoria pública está a falhar. Melhor seria se a Folha cobrasse explicações sobre como Adriana Ancelmo, que está sem trabalhar desde a prisão, consegue custear seus advogados.

Esclarecer a opinião pública sobre os seus direitos não é tarefa fácil e pouco interessa à extensa maioria dos veículos midiáticos, pois bom senso é mercadoria em extinção no jornalismo nacional. O importante é produzir confusão através da informação, muitas vezes rasteira e covarde. Uma democracia não existe à sombra da pasteurização do descumprimento da lei, mas na esteira da forma isonômica como a mesma é aplicada.

Não se trata de assunto envolvendo um folhetim de casa de alterne, mas, pelo contrário, um dos mais importantes jornais brasileiros, a Folha, que ao longo dos anos transformou-se em reduto da soberba dos escribas tupiniquins. Por essas e por outras o UCHO.INFO cresce dia após dia em termos de credibilidade, pois afinal fazemos jornalismo não para reivindicar o protagonismo, mas para fazer do cidadão o ator principal no palco verde-louro.

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