Governo que teme possível retaliação de político do naipe de Renan Calheiros não merece respeito

(Jonas Pereira – Agência Senado)

A política continua sendo um assunto complexo e enfadonho, porém o fator com maior fatia de responsabilidade pelo desinteresse da população é o difícil grau de compreensão. Não que entender a política em si seja tarefa impossível, mas a forma como ela acontece no Brasil é definitivamente ininteligível. Talvez porque os atores políticos preocupam-se muito mais com interesses pessoais e partidários, em vez de dedicarem-se aos interesses da população.

É sabido que Michel Temer não é o presidente dos sonhos, pelo contrário, mas, como prega a sabedoria popular, “é o que tem para hoje”. Antes de instalar-se no principal gabinete do Palácio do Planalto, Temer recorreu à metáfora e prometeu uma “ponte para o futuro”. Tudo o que se viu até agora foi uma reprise de algo ultrajante em termos de política. Ou seja, o presidente continua oferecendo aos brasileiros uma pinguela rumo ao passado.

Depois de rebater as críticas do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) com retaliações e a suspensão de nomeações de interesse do parlamentar alagoano, o Planalto agora volta a flertar com o ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB na Casa.

O movimento do governo na direção de Renan é marcado pela preocupação do governo em relação à votação de matérias de estímulo à economia, como as propostas de reforma trabalhista, tributária e da Previdência. Temendo que o mau humor de Calheiros contamine a base aliada no Senado, com chance de chegar à Câmara dos Deputados, o staff palaciano quer deixar nas entrelinhas a mensagem de que o governo continua de “portas abertas”.

Para quem falou em futuro, ceder à pressão espúria de Renan Calheiros é um retrocesso imperdoável. É verdade que na guerra um recuo pode garantir a vitória, mas se depender do peemedebista alagoano o triunfo custará caro aos brasileiros. Aliás, seu invejável currículo fala por si.


Os recentes ataques de Renan ao governo do correligionário Michel Temer têm explicação. De olho na reeleição por causa da necessidade de manter o foro privilegiado em razão das muitas ações penais em que é réu ou investigado, o senador alagoano sabe que a execução do seu projeto político está seriamente comprometida. Isso porque o cenário em Alagoas não lhe é favorável, mesmo com o filho no comando do estado nordestino.

As medidas do governo que miram a retomada do crescimento econômico são absolutamente necessárias, mas ao mesmo tempo carregam largas doses de impopularidade. E Renan Calheiros precisa ser muito bem recompensado para apoiar projetos que podem lhe tirar votos. Por enquanto, o discurso contra o governo e supostamente a favor da população é o que domina o cardápio do senador alagoano.

“O PMDB vai cumprir seu papel, [com] encaminhamentos, políticas públicas? Ou não vai? Vai ter que patrocinar as reformas vindas do Planalto sem discutir? São essas perguntas que tem que responder. Se continuar assim, vai cair governo para um lado e PMDB para o outro. Isso interessa a quem? É uma questão política, não é uma questão de diferença pessoal”, declarou o magoado Renan Calheiros.

O Brasil clama por mudanças na política, com direito a profunda profilaxia em todos os seus escaninhos, mas o governo insiste em agir de forma velhaca. Tanto é assim, que Michel Temer decidiu adiar a recriação da Secretaria de Portos. O ressurgimento da secretaria terá como principal objetivo aplacar o apetite do PMDB do Senado por cargos. E como Renan é o líder da legenda na Casa legislativa, não causará surpresa se o indicado ao cargo for um apaniguado.

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