Dois paranaenses estão a chamar a atenção no cenário político nacional. O truculento senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da lei de abuso de autoridade que quer enquadrar os juízes, inibindo-os para que não mais incomodem os poderosos com ameaças de punição, e a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) que, apesar de ser ré por corrupção, é a candidata ungida por Lula para presidir o PT.
Os senadores paranaenses Gleisi Hoffmann e Roberto Requião estão no “olho do furacão”. Ganharam novos papéis na semana anterior, atraindo holofotes em Brasília, conforme levantamento produzido pelo jornal “Gazeta do Povo”.
Requião agora assume a linha de frente no embate com procuradores e magistrados, atingidos diretamente pela proposta de uma nova lei para o crime de abuso de autoridade, em costura no Senado desde o fim de 2016. O mais interessante nessa epopeia que ronda o mencionado projeto é que Requião é adepto conhecido do abuso de autoridade, como comprova matéria anterior do UCHO.INFO.
Eleita com expressiva votação para o Senado, no pleito de 2010, Gleisi licenciou-se logo do cargo para assumir o comando da Casa Civil, durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff. Ao voltar para o Senado, em 2014, notabilizou-se ao levar para os embates no plenário da Casa uma defesa veemente das gestões petistas.
Acabou, mais tarde, fazendo também a defesa mais aguerrida no Senado pela permanência de Dilma Rousseff, alvo de processo de impeachment, entre dezembro de 2015 e agosto de 2016.
Mas foi também em 2014 que a Operação Lava-Jato a atingia pela primeira vez. Em 2015, Gleisi passou a figurar na primeira “lista de Janot”. Em 2016, tornou-se ré no Supremo Tribunal Federal (STF). “Continuo de cabeça erguida, não devo nada, não fiz coisa errada, não participei de roubo da Petrobras, e vou fazer o meu mandato aqui e vou provar minha inocência”, declarou ela.
Mas, por causa da Lava-Jato, Gleisi teria inicialmente resistido à ideia de concorrer à presidência nacional do PT. A sigla, que troca de comando em junho, enfrenta sua pior crise, em boa medida na esteira da investigação do maior escândalo de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. Gleisi só teria se convencido a entrar na disputa depois de uma conversa com o ex-presidente Lula, no último dia 3 de abril.
Mesmo na condição de ré por corrupção na Lava-Jato, a petista é a preferida da corrente majoritária do PT, a “Construindo um Novo Brasil” (CNB). A ala acredita que o nome da paranaense tem mais condições de atrair os demais segmentos da legenda, facilitando a construção de uma candidatura única.
Ao contrário da colega de bancada, Requião ficou mais distante dos holofotes no ano passado, quando o processo de impeachment dominava a pauta em Brasília. Uma das principais figuras da ala “à esquerda” do PMDB, o paranaense viu-se isolado na defesa de Dilma Rousseff.
Entrou em cena somente ao fim do processo de destituição, para marcar posição, na contramão do campo majoritário da sua sigla. Quando o correligionário Michel Temer passou a ocupar em caráter definitivo a principal cadeira do Palácio Planalto, o senador resolveu voltar à arena política, como se fosse um gladiador medieval.
Ao lado dos petistas, fez dura oposição à PEC do teto dos gastos, primeira prioridade do Planalto no Congresso Nacional, em 2016. Atualmente, é crítico da reforma da Previdência pretendida pelo governo federal, ainda em trâmite na Câmara dos Deputados.
Entre uma coisa e outra, assumiu missão das mais complexas em tempos de Lava-Jato: em novembro de 2016, a convite do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Requião tornou-se relator do Projeto de Lei 280/2016, que trata dos crimes de abuso de autoridade cometidos por agentes públicos.
A escolha do relator não foi aleatória. Fora da “lista de Janot”, conhecido pela atuação independente no Senado, pelo palavreado duro nos discursos e famoso pelas brigas que travou com magistrados e membros do Ministério Público, especialmente ao longo dos três mandatos como governador do Paraná, Requião tinha o perfil desejado por Renan Calheiros para a tarefa.
Até aqui, Requião tem se mantido disposto a levar o projeto de lei para votação no plenário do Senado, a despeito dos detratores do texto, que o enxergam como uma tentativa de cercear o trabalho dos investigadores da Lava-Jato.