Diferentemente do que pensam milhões de brasileiros, a avalanche de corrupção que derreteu o País ao longo de uma década (2004-2014) é muito mais grave e complexa do que parece. Assim como difícil será encontrar o antídoto contra uma chaga que avançou nas entranhas do Estado. Esse diagnóstico resulta não apenas das investigações da Operação Lava-Jato, mas dos depoimentos dos delatores que fomentaram um esquema criminoso sem precedentes.
Como vem afirmando o UCHO.INFO ao longo dos anos, e ainda afirma, política e corrupção no Brasil tornaram-se irmãs siamesas. Sendo assim, a cirurgia de separação dos corpos requer cuidado redobrado, pois em jogo está a sobrevivência da nação.
A sociedade precisa estar preparada para as consequências do maior e mais ousado esquema de corrupção de que se tem notícia, o Petrolão, pois o Estado será exigido, mais uma vez, para punir aqueles que saquearam os cofres públicos como se tal prática fizesse parte da estrutura existencial dos corruptos e dos corruptores. O depoimento de Marcelo Odebrecht deixa claro que o anormal tornou-se comum, já que o grupo empresarial baiano tinha a corrupção como engrenagem primária dos próprios negócios.
O cenário de crime continuado que foi exposto aos cidadãos demandará investigações complementares, tramitação processual, julgamentos judiciais e, por fim, eventuais condenações. Essa sequência de atos necessários por si só comprometerá o funcionamento de um Estado paquidérmico e falido que vive à sombra de promessas múltiplas e ilusões sem fim. Sem contar a desconfiança crescente daqueles que poderiam investir no País, mas não o fazem por causa da corrupção sistêmica.
Criado para ser uma Corte constitucional, guardiã da Carta Magna, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi transformado em Corte penal, talvez em delegacia de polícia com pompa e circunstância, tamanho é o número de corruptos que terá de julgar nos próximos cinco anos, pelo menos.
A burocracia legal fará com que os processos envolvendo os corruptos do Petrolão se arrastem por anos a fio, correndo-se o risco de muitos apostarem na prescrição como forma de manter a impunidade. Isso significa que o STF terá uma difícil missão pela frente: escolher entre dar andamento aos muitos processos que repousam na Corte à espera de julgamento ou mandar tudo às favas e dedicar-se ao julgamento de corruptos e corruptores.
Se a primeira opção for a escolhida, o Supremo estará dando de ombros aos corruptos. No caso de ser a segunda, a Corte deixará para trás muitos cidadãos que têm o sacro direito de recorrer à máxima instância do Judiciário. Enfim…