Precisando do protagonismo para não desaparecer da cena política nacional e tentar a reeleição, o que lhe garantirá a preservação do incompreensível foro privilegiado, a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) não se incomoda em apelar ao ridículo, fingindo desconhecer a lei e atropelando o bom senso.
Estabelece a Constituição Federal – artigo 5º, inciso XXXVII – que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Ou seja, nenhum cidadão terá privilégio em relação a outro, mesmo que em situações anômalas ou especiais. Apesar desse imperativo constitucional, afinal trata-se de cláusula pétrea, no Brasil alguns são mais iguais que os outros, talvez mais iguais que a extensa maioria de comuns.
Ré por corrupção na Operação Lava-Jato, mencionada na lista da Odebrecht sob o codinome “Amante” e amargando os dividendos negativos da prisão do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações), a senadora petista não sabe mais o que fazer para estar no noticiário.
Na terça-feira (25), em mais um espetáculo de histrionismo explícito, Gleisi Helena defendeu os índios que tentaram invadir o Congresso Nacional e colocaram em risco os policiais legislativos e os frequentadores do Parlamento com o uso de flechas e outros apetrechos de guerra tipicamente indígenas.
Os índios, que defendem a demarcação de terras, tomaram a frente do Congresso e, valendo-se da tecnologia, protestaram em cima de carro de som e exibiram caixões funerários “fakes”, cuja produção passou a léguas de distância do artesanato, atividade típica dos povos indígenas. Respeitar os direitos dos indígenas é necessário, aceitar a baderna sob o manto do politicamente correto é querer incendiar o País.
Para emprestar doses de dramatização ao seu pífio e decadente protagonismo, Gleisi surgiu em plenário usando um cocar e discursou a favor dos silvícolas, cuja autenticidade é tão confiável quanto a honestidade que reina nas entranhas do Partido dos Trabalhadores.
Quem frequenta o Congresso com certa assiduidade sabe que os índios são presença constante no recinto, especialmente nos gabinetes parlamentares, onde costumeiramente tomam alguns trocados de deputados e senadores, assim como dos incautos que aparecerem pela frente.
A demarcação de terras indígenas é assunto antigo e emoldurado pela polêmica que embala interesses tão difusos quanto escusos. As reservas indígenas são áreas ricas em minérios, onde o contrabando impera como se fosse a lei maior.
Apenas para ilustrar a matéria, a rodovia que liga Boa Vista (RR) a Manaus (AM) é fechada todas as noites e madrugadas pelos índios para que seja possível escoar o nióbio retirado ilegalmente de áreas indígenas. O esquema é tão acintoso, que nenhuma autoridade ousa furar o bloqueio imposto pelos índios.
Gleisi encenou no plenário do Senado um verdadeiro “programa de índio”, que reflete o oposto da vida que leva como “dondoca” da esquerda tupiniquim. Em vez de fazer visitas rotineiras à elegante e cara Sax Department Store (na paraguaia Ciudad del Este), onde vai ao delírio entre os itens de grifes famosas, e hospedar-se em luxuosos hotéis de Foz do Iguaçu, a senadora deveria colocar o pé na estrada e conferir o que se passa nas terras indígenas, antes de protagonizar papelões.