Coreia do Sul elege liberal como novo presidente; resultado representa problema para Washington

Os sul-coreanos elegeram com folga nesta terça-feira (9) o progressista Moon Jae-in como novo presidente, segundo a comissão eleitoral do país. Já esperada, sua vitória termina com quase uma década de governo conservador em Seul e deve levar a uma abordagem mais conciliatória em relação à Coreia do Norte, um dos temas centrais da campanha.

A eleição foi realizada de forma antecipada depois que a presidente Park Geun-hye foi deposta do cargo, em março passado, e indiciada por corrupção. A maior participação do eleitorado em duas décadas – 77,2% – rendeu cerca de 40% dos votos a Moon, um progressista que fez carreira como advogado especializado na defesa dos direitos humanos.

O conservador Hong Joon-pyo, do Partido da Liberdade (da ex-presidente Park Geun-hye) e que chamou Moon de um “esquerdista pró-Pyongyang”, ficou com 25% dos votos, seguido do centrista Ahn Cheol-soo, do Partido Popular, com 21,5%. A eleição presidencial na Coreia do Sul não prevê segundo turno, e o mandato é de cinco anos.

Mais diplomacia com Pyongyang

Moon deve adotar uma abordagem mais diplomática em relação à Coreia do Norte, em contraste com a ex-presidente, que conduziu uma política agressiva durante seu mandato. Em um dos debates presidenciais, Moon disse acreditar que a diplomacia é o melhor caminho para convencer os norte-coreanos a desistir do seu programa nuclear.

Observadores afirmam que as declarações dele lembram a chamada “Política do Brilho do Sol”, que entre 1998 e 2008, sob um governo de esquerda, buscou uma aproximação com os norte-coreanos, em contraste com a abordagem linha-dura adotada por diferentes governos sul-coreanos nos últimos oito anos e também com a política internacional de isolamento e pressão sobre o pequeno país asiático.


À época, as Coreias criaram a zona econômica especial comum de Kaesong, o sul apoiou generosamente projetos de ajuda no norte, e conversações bilaterais eram conduzidas sem exigências prévias. Desta vez, Moon fala em três projetos centrais: uma cúpula coreana com Kim Jong-un, a reabertura de Kaesong e a criação de uma área turística no Monte Kumgang, no norte. Estes dois projetos podem trazer milhões de dólares por ano aos norte-coreanos.

Na última semana, em entrevista ao jornal “The Washington Post”, Moon também criticou o envio do sistema de mísseis americano, afirmando que a instalação das armas não era desejável e que a decisão não foi democrática. O sistema é altamente controverso na Coreia do Sul. Moon também disse que a diplomacia sul-coreana deve desempenhar um papel mais importante na relação com a Coreia do Norte, em vez de deixar todos os debates com a China e os EUA.

“Na opinião dele, Seul deve seguir uma política autônoma para a Coreia do Norte e ocupar uma posição de liderança para levar a paz e a estabilidade à Península Coreana”, afirma o cientista político Steven Denney, da Universidade de Toronto. “Isso pode gerar atritos com Washington”, acrescenta. Há dias, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, pediu à comunidade internacional que encerre relações diplomáticas e comerciais com a Coreia do Norte.

Em suma, a eleição de Moon Jae-in representa uma ligeira guinada à esquerda da Coreia do Sul, ao mesmo tempo em que o governo de Donald Trump terá dificuldades extras para continuar rivalizando com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Considerando que a China apoia – muito mais por debaixo do pano do que oficialmente – o governo de Pyongyang, Trump que se prepare, pois brincar de forte apache na Ásia é coisa do passado.

Superar escândalo e impeachment

A eleição sul-coreana não deve ter apenas impacto internacional. No âmbito doméstico, espera-se que a eleição ajude a superar as divisões deixadas pelo impeachment de Park. Filha de um antigo ditador sul-coreano e primeira mulher a ser eleita presidente no país, Park se viu envolvida em 2016 num escândalo de corrupção que levou milhões de sul-coreanos a protestar nas ruas.

Ela foi suspensa do cargo em dezembro, após uma votação na Assembleia Nacional. Em março deste ano, a Suprema Corte do país confirmou o afastamento definitivo. Park acabou sendo presa em 30 de março. Desde o início do processo de impeachment, o governo vinha sendo administrado pelo primeiro-ministro Hwang Kyo-ahn.

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