Em cerimônia realizada na manhã desta sexta-feira (12) no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer (PMDB) comemorou um ano à frente do governo, com direito a discursos de autoridades e retrospecto desse período que começou com o afastamento temporário de Dilma Rousseff, sendo confirmado no cargo meses depois com o impeachment da petista.
Temer, que foi precedido em sua fala pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), ressaltou os avanços na economia, mas é preciso destacar que, apesar do reconhecido talento dos integrantes da equipe econômica, a crise, que ainda perdura, perdeu um pouco da força por conta do estrago que ela própria produziu no País.
Falar em queda da inflação, como apontam os números estatísticos, é não querer enxergar a realidade. O mais temido fantasma da economia arrefeceu porque o consumo entrou em assustadora trajetória de queda, reflexo do avanço do desemprego, da desconfiança da população em relação ao futuro, do endividamento das famílias, da perda do poder de compra dos salários e do elevado custo do crédito.
Michel Temer não é o presidente dos sonhos, pelo contrário, mas como prega o dito popular “é o que temos para hoje”. A grande questão é que o governo Temer transformou-se na administração do “se”. Nos primeiros dias após sua chegada ao principal gabinete palaciano, o presidente deveria ter revelado à população as entranhas da herança político-administrativa que recebeu. Não o fez. “Se” tivesse feito isso, a situação atual seria menos complexa em termos de críticas da opinião pública.
Temer, antes de assumir o poder central, falou em “ponte para o futuro”, mas até hoje insiste em trafegar sobre uma pinguela em relação ao passado. Prometeu mudanças, mas manteve o status quo. “Se” tivesse feito algum movimento na direção da mudança, talvez sua aprovação não estaria tão próxima do chão.
O presidente acabou compactuando com a corrupção ao manter na chefia de ministérios e em cargos estratégicos do governo políticos investigados na Operação Lava-Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes. “Se” tivesse afastado os colaboradores tão logo surgiram os primeiros resultados das investigações, repetindo o que fez Itamar Franco em relação a Henrique Hargreaves, talvez a situação do governo fosse outra.
Não obstante os casos que brotam da Lava-Jato, em muitos escaninhos da Esplanada dos Ministérios há uma enxurrada de escândalos que estranhamente não consegue despertar os brasileiros para a realidade. Um dos casos envolve o Ministério da Saúde e a compra de medicamento usado no tratamento da Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA). Entregue ao Partido Progressista, o Ministério da Saúde foi pressionado em relação ao tema após matéria do UCHO.INFO, mas parece que o governo decidiu cruzar os braços. “Se” já tivesse tomado uma atitude para reverter o quadro, Michel Temer certamente estaria livre de eventualmente responder por crime de omissão, caso algum paciente morra em decorrência da eficácia não comprovada do medicamento chinês.
A atuação da equipe palaciana é pífia quando o assunto é comunicação. O governo ressuscitou com pompa e circunstância a figura do porta-voz, mas ignorou a necessidade de falar diretamente ao povo, com uma linguagem simples e compreensível. O melhor exemplo dessa falha comunicativa ergue-se na reforma da Previdência. Com a matéria à espera de votação no Congresso Nacional, o governo está temeroso em relação à aprovação da proposta por ter se comunicado mal. “Se” tivesse sido claro na explanação do projeto que modifica as regras das aposentadorias, por certo não estaria recorrendo a campanhas publicitárias de última hora.