Donald J. Trump, o bilionário fanfarrão, continua acreditando que governar a maior potência do planeta é tão simples quanto administrar seu decadente cassino. Na segunda-feira (15), o jornal “The Washington Post” afirmou que Trump repassou a autoridades russas informações ultrassecretas sobre supostos planos do grupo terrorista “Estado Islâmico” (EI).
As informações foram repassadas durante reunião na Casa Branca, no último final de semana, entre Trump e o chanceler russo Sergei Lavrov e o embaixador da Rússia nos Estados Unidos, Sergey Kislyak. Não há impeditivo legal para repassar informações a aliados, mas essa não tem sido uma prática comum nos últimos governos, inclusive dos republicanos.
A Casa Branca rebateu de chofre a acusação do jornal, afirmando não ter discutido com os russos qualquer informação envolvendo métodos ou fontes de inteligência. “Eu estava na sala, isso não aconteceu”, afirmou a repórteres na segunda-feira H. R. McMaster, conselheiro de Segurança Nacional de Trump.
Depois de o staff presidencial negar a informação do “The Washington Post”, Trump usou o Twitter para se defender e afirmar que “tem o direito de compartilhar informações com os russos”, relativas a ações terroristas e à segurança aérea. Segundo o jornal, a informação repassada pelo presidente dos EUA aos russos era sobre suposto plano do EI de usar notebooks em aviões para promover atentados.
A informação teria sido repassada à inteligência norte-americana por um país aliado dos EUA, até então não identificado, que conhece a fundo a rotina mais restrita do grupo terrorista que tenta implantar um califado em parte do Iraque e da Síria. A informação foi considerada tão importante, que não foi transmitida a outros aliados, circulando apenas no alto escalão do governo de Washington. É importante ressaltar que o tal aliado não autorizou a divulgação da informação.
No primeiro vai e vem do caso fico claro que alguém mentiu nesse imbróglio ianque – ou foi o conselheiro de Segurança Nacional de Trump ou foi o próprio presidente. Mas a confusão não parou por aí, como esperado.
O governo de Moscou se apressou em negar que autoridades russas, presentes que participaram do encontro na Casa Branca, tenham recebido informações ultrassecretas sobre o Estado Islâmico. A negativa do Kremlin é lógica, porque o governo de Vladmir Putin há muito está na mira do serviço de inteligência dos EUA.
A confusão ganha força em um detalhe. As informações foram fornecidas aos EUA pelo serviço de inteligência de Israel, segundo uma fonte que ainda trabalha no governo americano e outra que já deixou a administração, conforme noticiou o jornal “The New York Times”. Em suma, trata-se uma confusão diplomática para não se colocar defeito.
Importante aliado dos EUA e importante fonte de informações de inteligência sobre Oriente Médio, Israel não confirmou ser a fonte da informação compartilhada com os russos. Em nota enviada ao “The New York Times”, o embaixador israelense nos EUA, Ron Dermer, reforçou a próxima e sólida relação entre ambos os países, especialmente em assuntos relacionados ao combate ao terrorismo.
“Israel tem total confiança na relação de compartilhamento de inteligência com os EUA e está ansioso para aprofundar essa relação nos anos à frente do governo Trump”, destacou Dermer na nota.
A grande preocupação que brota do episódio está na possibilidade de a informação repassada por Trump às autoridades russas chegar a Teerã. Não se pode esquecer que Israel e Irã são adversários conhecidos e há muito travam uma intensa troca de acusações e ameaças.
Para piorar a situação, Donald Trump é acusado de tentar interferir nas investigações do FBI sobre a ingerência russa na eleição presidencial de 2016. O presidente dos EUA pediu ao então chefe do FBI, James Comey, demitido na última semana, para que “abandonasse” a investigação sobre Michael Flynn, ex-assessor de segurança nacional de Trump. A informação é do The New York Times.
De acordo com o jornal nova-iorquino, o pedido de Trump que consta de memorando confidencial de Comey, representa interferência direta em investigação em curso e possível obstrução à Justiça. O que nos Estados Unidos é considerado crime.
Em conversa com Comey no Salão Oval da Casa Branca, o presidente teria dito: Michael Flynn “é um bom sujeito, espero que possa abandonar” esta investigação. “Espero que possa haver uma forma de deixar passar isto, de livrar Flynn”, pediu Trump, destaca o documento citado pelo jornal.
Encurralado, Michael Flynn foi obrigado a pedir demissão em 13 de fevereiro por omitir os seguidos contatos o embaixador russo em Washington em 2016. Nessas conversas, Flynn tratou das sanções de Washington impostas a Moscou.
Conforme noticiou o “The New York Times”, Comey adotou o hábito de redigir memorandos sobre as conversas com Trump diante das “tentativas impróprias do presidente de influenciar em uma investigação em curso”.
Sem saída diante do avanço do escândalo, a Casa Branca reagiu à notícia e afirmou que “o presidente jamais pediu a Comey ou a qualquer outra pessoa que encerrasse uma investigação, inclusive sobre o general Flynn”.
O pífio governo de Donald Trump pode alegar o que quiser, mas é preciso lembrar que a Justiça dos EUA normalmente considera as anotações de um agente do FBI como prova de que determinada conversa de fato aconteceu.
Como a história se repete, Trump, a exemplo do também republicano Richard Nixon, tornou-se refém de uma investigação que pode acabar em processo de impeachment. Afinal, o presidente magnata, que brinca de governar, é acusado de tentativa de obstrução à Justiça e de colocar em risco a segurança dos Estados Unidos.