Como antecipou o UCHO.INFO na edição de quinta-feira (18), os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff não escaparam à delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, do Grupo JBS. Em acordo de colaboração premiada, Joesley afirmou aos procuradores da República que duas “contas correntes” de propina, mantidas no exterior, tinham como beneficiários Lula e Dilma. O saldo de ambas as contas, segundo o delator, chegou a US$ 150 milhões em 2014 e que o operador das mesmas era o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda).
Esse trecho do depoimento derruba de vez a tese que circulou no País nas últimas horas de que a gravação das conversas do empresário com o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) era obra de Lula, que eventualmente se beneficiaria com catástrofe política.
À Procuradoria-Geral da República (PGR), Joesley afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) adquiriu, em dezembro de 2009, debêntures do JBS no valor de US$ 2 bilhões, sendo que essas foram convertidas em ações do grupo. O objetivo do negócio era apoiar o plano de expansão do grupo empresarial naquele ano.
“O depoente escriturou em favor de Guido Mantega, por conta desse negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu conta no exterior, em nome de offshore que controlava, na qual depositou o valor”, destaca trecho da delação.
Para piorar, Joesley disse que o então titular da Fazenda disse que Lula e Dilma sabiam do esquema. “O depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou que sim.”
No âmbito da Operação Greenfield, que investiga a participação do BNDES e de fundos de pensão de estatais em negócios suspeitos, o empresário também não economizou palavras. Joesley explicou que Mantega intercedeu junto ao BNDES para que, em 2011, fosse aprovado um financiamento de R$ 2 bilhões destinado à construção da planta da Eldorado Celulose, empresa do grupo. O empresário afirmou ter depositado, ‘a pedido de Mantega’, por conta da liberação di financiamento, US$ 30 milhões em nova conta no exterior,
“A operação foi realizada após cumpridas as exigências legais”, afirmou Joesley. “Sempre percebeu que os pagamentos de propina não se destinavam a garantir a realização de operações ilegais, mas sim de evitar que se criassem dificuldades injustificadas para a realização de operações legais”, completou.
“O depoente, nesse momento, já sabia que esse valor se destinava a Dilma; que os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef; que esses saldos somavam, em 2014, cerca de US$ 150 milhões.”
Mantega “passou a chamar o depoente quase semanalmente ao Ministério da Fazenda, em Brasília, ou na sede do Banco do Brasil em São Paulo, para reuniões a que só estavam presentes os dois, nas quais lhe apresentou múltiplas listas de políticos e partidos políticos que deveriam receber doações de campanha a partir dos saldos das contas”, revela outro trecho do depoimento de Joesley Batista.
“A primeira lista foi apresentada em 4 de julho de 2014 por Guido ao depoente, no gabinete do Ministro da Fazenda no 15º andar da sede do Banco do Brasil em São Paulo, e se destinava a pagamentos para políticos do PMDB; que a interlocução com políticos e partidos políticos para organizar a distribuição de dinheiro coube a Ricardo Saud, Diretor de Relações Institucionais da J&F, exceção feita a duas ocasiões”, relatou.
Joesley disse também que esteve no Instituto Lula em outubro de 2014, ocasião em que revelou ao ex-presidente da República que as doações oficiais da JBS já tinham ultrapassado R$ 300 milhões. “Indagou se ele (Lula) percebia o risco de exposição que isso atraía, com base na premissa implícita de que não havia plataforma ideológica que explicasse tamanho montante; que o ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas nada disse”, afirmou.
No mesmo trecho depoimento o empresário menciona o PMDB. “A primeira lista foi apresentada em 4 de julho de 2014 por Guido ao depoente, no gabinete do Ministro da Fazenda no 15º andar da sede do Banco do Brasil em São Paulo, e se destinava a pagamentos para políticos do PMDB; que a interlocução com políticos e partidos políticos para organizar a distribuição de dinheiro coube a Ricardo Saud, Diretor de Relações Institucionais da J&F, exceção feita a duas ocasiões”, relatou.
Um mês depois, em novembro de 2014, o empresário relatou também que, em novembro de 2014, ‘depois de receber solicitações insistentes para o pagamento de R$ 30 milhões para Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais, veiculadas por Edinho Silva (tesoureiro da campanha de Dilma em 2014), e de receber de Guido Mantega a informação de que “isso é com ela”, solicitou audiência com Dilma’.
“Dilma recebeu o depoente no Palácio do Planalto; que o depoente relatou, então, que o governador eleito de MG, Fernando Pimentel, estava solicitando, por intermédio de Edinho Silva, R$ 30 milhões, mas que, atendida essa solicitação, o saldo das duas contas se esgotaria; que Dilma confirmou a necessidade e pediu que o depoente procurasse Pimentel”, detalhou aos procuradores.
Joesley afirmou no depoimento que no mesmo dia encontrou-se com Pimentel no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e disse ‘que havia conversado com Dilma e que ela havia indicado que os 30 milhões deveriam ser pagos’.
“Pimentel orientou o depoente a fazer o pagamento por meio da compra de participação de 3% na empresa que detém a concessão do Estádio Mineirão; que afora essas duas ocasiões, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha do PT, encontrava-se, no período da campanha de 2014, semanalmente com Ricardo Saud e apresentava as demandas de distribuição de dinheiro; que Ricardo Saud submetia essas demandas ao depoente, que, depois de verificá-las com Guido Mantega, autorizava o que efetivamente estivesse ajustado com o então ministro da Fazenda”, traz outro trecho da delação.