Operação Patmos: prisão de advogado que vendeu facilidades ao JBS tira o sono de deputado maranhense

Aqueles que acompanham com frequência a política em Brasília sempre desconfiaram da rápida ascensão do deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA), o parlamentar garboso que circula pelos corredores do Congresso Nacional como se fosse o último reduto da moralidade púbica.

A trajetória de Weverton vez por outra exibia traços de voo de galinha, mas ele jamais deixou de ostentar a imponência de uma águia de camelô. Histriônico, Weverton Rocha viu, nos últimos dias, ruir as primeiras paredes de seu castelo de cartas. Ele ainda tenta evitar uma implosão, mas qualquer movimento mais acintoso poderá colocar tudo a perder, se é que já não está perdido.

Acostumado a usar o vozeirão e o corpanzil para tentar impor suas vontades políticas, receita que nem sempre surte resultado, Weverton, que tem no currículo alguns escândalos sob investigação, não esperava que a delação de Joesley Batista, presidente do Grupo JBS, pudesse atrapalhar seus negócios e o já comprometido plano de chegar ao Senado Federal por um dos mais pobres estados brasileiros, o Maranhão.

Preso pela Polícia Federal na Operação Patmos, o advogado Willer Tomaz, que por R$ 8 milhões vendeu à JBS facilidades diversas na Praça dos Três Poderes, principalmente no Judiciário e no Ministério Público Federal, deixou o deputado maranhense preocupado. Tomaz, que parece deter o segredo do milagre da multiplicação, tem muito a revelar às autoridades. Como o tempo é o senhor da razão e o efeito do cárcere é homeopaticamente devastador, a expectativa é que solte o verbo.

É nesse exato ponto que estaria camuflado o temor de Weverton Rocha, o pedetista empertigado que continua esfregando as mãos para assumir o comando do Sistema Difusora de Comunicação, de propriedade de Edson Lobão Filho, filho do senador e ex-ministro Edson Lobão (Minas e Energia).

Quem vinha negociando com Lobão Filho em nome de Weverton, sobretudo para viabilizar a parte financeira do negócio, era o agora preso Willer Tomaz, mas as tratativas não avançaram por questões judiciais.

Considerando que Willer Tomaz aproximou-se criminosamente dos irmãos Wesley e Joesley Batista – acostumados a comprar políticos com a mesma facilidade que arrematam uma boiada – e simultaneamente cuidava dos interesses de Weverton Rocha no negócio das emissoras de rádio e televisão, essa atuação no estilo “um pé em cada canoa” é no mínimo estranha.

O imbróglio passa a exalar a fumaça da desconfiança por conta de um detalhe: na campanha de 2014, Weverton Rocha recebeu R$ 100 mil, em caráter oficial, do Grupo JBS – igual valor doou a empreiteira Queiroz Galvão. Não se pode esquecer que os irmãos Batista tinham, até recentemente, uma descontrolada vocação para fazer doações através de caixa 2.

Esse capítulo maranhense da Operação Patmos está baseado em um enredo confuso e que tem todos os ingredientes para terminar em rumorosa confusão. A imprensa do Maranhão noticia, sem qualquer constrangimento, que o advogado preso na Operação Patmos é “testa de ferro” de Weverton Rocha e Flávio Dino, o governador, no negócio envolvendo o Sistema Difusora de Comunicação (há quem garanta que a transação gira na casa de R$ 65 milhões). Se a informação procede não se sabe, mas o assunto é voz corrente em São Luís.

Para emprestar mais emoção ao roteiro, Willer Tomaz, o “globetrotter” da advocacia brasilense, cooptou em favor da JBS, para interferir na Operação Greenfield (investiga irregularidades em fundos de pensão de estatais), Ângelo Goulart Villela, procurador da República. Até ser preso, Villela era assessor direto do subprocurador-geral da República Nicolau Dino, irmão do governador Flávio Dino e que atua no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Currículo turbulento

As primeiras acusações envolvendo Weverton Rocha surgiram em 2011, no vácuo de um esquema de corrupção no Ministério do Trabalho. À época, a revista Veja publicou reportagem denunciando que servidores e ex-servidores de órgãos de controle da pasta exigiriam comissão de 5% a 15% do valor dos convênios para resolver “pendências” nos contratos.

No mesmo ano, Weverton já era alvo de sete ações judiciais por improbidade administrativa no Maranhão, sendo seis na Justiça Estadual e uma na Justiça Federal, todas relacionadas ao período em que esteve à frente da Secretaria Estadual de Esporte. As irregularidades incluíam o favorecimento ilícito à empresa responsável pela reforma de um ginásio esportivo e o desvio de mais de mil colchões destinados às famílias desabrigadas pelas enchentes no Maranhão, em 2008. Além disso, Weverton Rocha patrocinou com dinheiro público (R$ 88.054,25) a reforma de um campo de futebol da Associação dos Delegados do Maranhão (Adepol).

Em 2012, o pedetista foi acionado pela Justiça Federal para explicar irregularidades no programa ProJovem Urbano. Pelo menos R$ 3,9 milhões teriam sido desviados, segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que apontou falha na transferência de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a Secretaria de Esporte e Juventude (SESPJUV).

De acordo com a denúncia, Rocha dispensou, de forma indevida, a licitação para a contratação da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) e do Instituto Maranhense de Administração Municipal (Imam). A pena a ser cumprida era à devolução de pouco mais de R$ 6 milhões, perda do cargo público, suspensão dos direitos políticos e multa.

Em relação à Ação Penal 683, que trata da contratação da Fundação Darcy Ribeiro, Weverton Rocha alegou que não havia à época entidade capaz de realizar o trabalho. No caso da Ação Penal 700, que tem como cardápio jurídico a contratação de empresa para transportar atletas pelo estado, Rocha alegou que “houve contrato com a única empresa que se apresentou no certame”.

Em 2013, o Supremo Tribunal Federal decidiu intensificar as investigações sobre a cobrança de propina no âmbito do Ministério do Trabalho para a liberação de recursos destinados organizações não governamentais (ONGs). Weverton Rocha, segundo a denúncia, estaria envolvido no esquema que resultou na queda do presidente do PDT, Carlos Lupi, à época ministro da pasta. O inquérito apura o desvio de recursos públicos e corrupção na contratação de ONGs entre 2007 e 2011.

Em outro vértice desse caldeirão de escândalos surge a Federação do Desenvolvimento das Organizações do Terceiro Setor do Maranhão (Fedecma), Ong comandada por Marileide Rocha, mãe do deputado Weverton, que contratou com recursos do Ministério do Trabalho – comandado por pedetistas – terreiro de umbanda para capacitar jovens em massagem, relaxamento e depilação.

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