Troca de ministros transforma o Ministério da Justiça em trincheira jurídica para o cambaleante Temer

A mudança promovida pelo presidente Michel Temer no Ministério da Justiça revela o grau de desespero do governo, que passou a balançar de forma perigosa após a contundente delação dos irmãos Batista, donos do Grupo JBS. A saída de Osmar Serraglio e a chegada de Torquato Jardim foram justificadas pela necessidade de o governo ter à frente da pasta alguém com maior interlocução com o Judiciário, mas precisamente no STF e no TSE.

A desculpa não convence, pois o governo não carece dessa interlocução, além da institucional que já existe entre os Poderes constituídos. Na verdade, quem precisa desse cenário de conversas de bastidores é o próprio Michel Temer, que corre o risco de ser apeado do poder e preso no dia seguinte.

Colocar no comando do Ministério da Justiça alguém que já fez duras críticas à Operação Lava-Jato é ignorar a opinião pública e partir para o confronto como forma de salvar a própria pele. Temer sabe que sua carreira política está por um fio, por isso tenta a todo custo preservá-la, ignorando os interesses da nação.

Osmar Serraglio, que foi criticado por políticos de várias correntes, inclusive pelo senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), não interferiu na Operação Lava-Jato, assim como não promoveu mudanças na direção da Polícia Federal. Até porque, tais investidas seriam mal vistas pela opinião pública e produziriam mais desgaste a um governo que não goza da simpatia popular.


Os que criticaram Serraglio queriam que o então ministro da Justiça freasse as ações da PF, como se a corrupção pudesse continuar devastando o País, preservando o status quo de alguns políticos. Osmar Serraglio agiu de acordo com o que determina o bom senso e seguiu a legislação vigente.

Pode-se não gostar de Serraglio, mas afirmar que sua passagem pelo ministério não foi à altura da importância da pasta é querer fugir da realidade. O que Michel Temer busca é transformar o Ministério da Justiça em um escritório paralelo de advocacia, custeado com o dinheiro público, para defendê-lo nos tribunais superiores.

Por outro lado, Torquato Jardim, que estranhamente foi anunciado como novo ministro da Justiça na tarde do domingo (28), já integrou o TSE e tem bom trânsito no Supremo Tribunal Federal (STF). O que é bom para Michel temer, mas péssimo para o País. Se Temer quer reforçar sua defesa, que coloque a mão no bolso e contrate mais advogados – e dinheiro para isso não falta. Só não pode fazer do Ministério da Justiça uma versão tupiniquim e jurídica do Exército de Brancaleone.

Como essa mudança repentina e na calada de uma tarde dominical, Temer manda pelos ares uma das promessas feitas quando assumiu interinamente a Presidência da República: a de construir uma ponte para o futuro. No rastro da divulgação do gravado diálogo com Joesley Batista, ocorrido às escondidas e no porão do Palácio do Jaburu, Michel Temer confirma o que todos já sabiam. É mais do mesmo e quer impor à população uma pinguela rumo ao passado.

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