A posse de Torquato Jardim como ministro da Justiça deixou claro que a pasta será transformada em trincheira jurídica de um governo que balança à sombra de escândalos de corrupção. A bordo de fala mansa, voz grossa e frases feitas, o novo ministro não demorou muito para mostrar a que veio.
Amigo de Michel Temer há algumas décadas, Torquato Jardim falou aos jornalistas sobre a gravação da canhestra conversa entre o presidente da República e o empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, nos porões do Palácio do Jaburu.
É importante lembrar que não cabe ao ministro da Justiça se preocupar com a tal gravação, assunto de responsabilidade da defesa do presidente da República, sob o comando do criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira.
Na mesma entrevista, Torquato descartou que sua chegada ao Ministério da Justiça nada tinha a ver com a anunciada possibilidade de interferência no processo que tramita no TSE, mas ele próprio disse que deseja se inteirar sobre o processo de cassação da chapa Dilma-Temer. Ao ministro não cabe preocupar-se com o tal processo, pois a pasta da Justiça não é um escritório de advocacia especializado em Direito Eleitoral. Se Temer quer imiscuir no processo, que o faça por conta própria ou por meio de seus advogados.
Em relação à eventual substituição do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, o ministro afirmou que esse é um assunto que depende de uma avaliação da corporação, algo que poderá demorar três meses ou mais. Torquato Jardim disse que viajará a Porto Alegre na companhia de Daiello e que nesse período tentará compreender como funciona a PF.
“Não cabe essa resposta. Eu disse várias vezes, vamos conversar. Viajar juntos, conversar sobre a Policia Federal para que eu conheça o ambiente e a operacionalidade”, declarou o novo ministro.
Mesmo assim, o titular da Justiça foi evasivo ao falar sobre possível mudança na direção da Polícia Federal, medida que se consumada confirmará o desejo do governo de interferir no andamento da Operação Lava-Jato. “O mundo não é maniqueísta, preto e branco, sim ou não. Exceto Fla x Flu”, afirmou Torquato ao escapar de pergunta sobre o tema.
Em relação à Lava-Jato, o ministro alegou que a operação “é um programa de Estado, não de governo”. Destarte, a Operação Lava-Jato não é um programa, mas uma investigação sobre o maior e mais ousado esquema de corrupção da história da Humanidade. Mesmo que a Lava-Jato fosse um programa de Estado, interferir na operação é ir contra o desejo da extensa maioria dos brasileiros. Considerando que Michel Temer está com a popularidade ao rés do chão, qualquer movimento nessa direção será um suicídio político.
Perguntado sobre sua experiência em segurança pública, já que o ministério também engloba esse tema, Torquato Jardim apresentou ao País um comportamento que mescla arrogância com deboche. “Duas tias e eu mesmo assaltados, essa é minha experiência em segurança pública”, disse o novo ministro.
Lamentavelmente, nos últimos quase quinze anos os governos envolveram-se em tantos escândalos de corrupção e outros delitos, que o Ministério da Justiça precisou funcionar como uma banca de advogados sempre prontos a defender os presidentes da República, o que configura desvirtuamento da função da pasta e do próprio ministro.