TSE: ignorando o peso da toga, Admar Gonzaga age como advogado de defesa ao julgar chapa Dilma-Temer

Antes de iniciar a leitura do seu voto no âmbito da ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, acusada de abuso de poder político e econômico, o ministro Admar Gonzaga adotou discurso nada convincente para rebater, mais uma vez, a arguição de impedimento feita pelo vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino.

Com base no que determina a lei e também o bom senso, Admar não deveria participar do julgamento, já que em 2010 advogou para a campanha de Dilma Rousseff, que á época tinha como candidato a vice o peemedebista Michel Temer. Por questões óbvias e amparados pelo corporativismo, os ministros indeferiram o pedido feito por Dino, que agiu com prudência e correção.

Admar Gonzaga disse que não via motivos para seu impedimento, mesmo que tenha advogado para a campanha de Dilma, lembrando que, respeitada a quarentena imposta pela lei, ao deixar o TSE voltará a se dedicar ao Direito Eleitoral. Isso explica seu voto, pois ninguém, em são consciência, mata a “galinha dos ovos de ouro”. Como o show precisa continuar, como cantou Freddie Mercury, o ministro agiu no presente pensando no futuro.

O ministro, que chegou recentemente ao posto por nomeação de Michel Temer, fracassou na tentativa de convencer a opinião pública sobre a sua questionada imparcialidade. Após passar os quatro dias do julgamento duelando com o ministro-relator Herman Benjamin, que produziu voto técnico e primoroso, Admar não conseguiu esconder a que veio.


Ao ler seu voto, Admar Gonzaga, que deveria agir como julgador, mostrou que debaixo da toga estava um advogado de defesa travestido. Trechos do seu voto foram tão acintosos, que até mesmo os leigos em Direito não demoraram a perceber a ópera farsesca.

Deixando claro desde o primeiro momento do julgamento que votaria pela não cassação da chapa, Admar não corou a face ao discorrer para minimizar o fato de a campanha petista ter contratado serviços gráficos sem que os mesmos tivessem sido prestados. “Não se pode chegar à conclusão inequívoca de que tais serviços de campanha não foram prestados ou que houve desvio de recursos da campanha para terceiros”.

Não contente com o pífio espetáculo que protagonizou, Admar Gonzaga foi além: “Não reconheço a prática de abuso de poder em decorrência dos fatos em análise”. Ou seja, a referida Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é o processo do TSE com a maior quantidade de provas inequívocas, mas o ministro faz um vergonhoso contorcionismo interpretativo para eventualmente servir a seus senhores.

Mas isso não foi tudo na fala de Admar Gonzaga, o último gênio do Direito Eleitoral. “Não há prova segura e cabal de que as doações para campanha de 2014 tenham decorrido do esquema ilegal de repasse de propinas da Petrobras ou que recursos repassados por empresas teriam necessariamente origem ilegal”, disse o ministro em seu voto. Resumindo, após de mais de três anos, os brasileiros descobrem que a Operação Lava-Jato é uma enorme farsa e os corruptos são inocentes vítimas de injúrias, calúnias e perseguição.

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