Possibilidade de Temer e Aécio ficarem mais encalacrados levou o PSDB a permanecer no governo

A decisão do PSDB de permanecer no conturbado e cambaleante governo de Michel Temer contraria o desejo da extensa maioria da população, que não mais suporta escândalos de corrupção. Balançando no cargo por conta dos imbróglios que começaram a brotar a partir da delação da JBS, Temer passou a dedicar os dias apenas para salvar a própria pele, ciente de que a aprovação das anunciadas reformas trabalhista e previdenciária está em segundo plano. Concordem ou não os palacianos, essa é a realidade atual do governo.

Longe do Palácio do Planalto desde 31 de dezembro de 2002, quando FHC passou a faixa presidencial ao alarife Lula, o tucanato viu na aproximação com Temer uma possibilidade de recolocar o bico na vitrine política nacional, até porque ao longo desses anos o partido mostrou de forma clara que fazer oposição não é o seu forte.

Rachado desde a fundação, em 25 de junho de 1988 (lá se vão 29 anos), o PSDB viu a cizânia aumentar nos últimos dias por conta da divergência interna acerca do desembarque do governo de Michel Temer. Enquanto os tucanos da velha guarda insistiram na permanência do partido na base aliada e no próprio governo, os mais jovens defenderam a debandada geral e imediata. A questão que separou ambos os grupos é uma só: enquanto alguns tentam aproveitar a reta final da carreira política, outros estão preocupados com o futuro.

O que pode parecer uma análise insossa, na verdade é o retrato da realidade. Afinal, os chamados “cabeças pretas” do PSDB sabem que manter o partido atrelado a um governo corrupto e mergulhado em escândalos terá consequências graves nas urnas.

No contraponto, essa decisão passou pela necessidade de salvar dois políticos que estão na mira das autoridades, correndo o risco de ter de enfrentar o juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância da Justiça Federal pelos processos decorrentes da Operação Lava-Jato.


Presidente licenciado do PSDB e senador afastado por Minas Gerais, Aécio Neves precisa manter o foro privilegiado para não ser preso. Para tanto os tucanos buscam o maior número possível a favor de Aécio no Conselho de Ética do Senado, o que derrubaria um eventual processo de cassação do mandato por quebra do decoro parlamentar. Aécio Neves tem mandato de senador garantido até 31 de janeiro de 2019, devendo concorrer à reeleição ou a novo cargo eletivo para manter o foro. Com os escândalos, Aécio deverá concorrer à Câmara dos Deputados, o que exige menos votos e investimento menor na campanha.

Por outro lado, Michel Temer precisa do apoio do PSDB para barrar na Câmara dos Deputados a autorização de abertura de inquérito, com base na denúncia que será apresentada na próxima semana pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que faltando poucos meses para deixar o cargo colocou como meta a derrubada do presidente da República.

Aécio e Temer sabem que a ausência do foro privilegiado os faz presas fáceis no escopo da Operação Lava-Jato, mesmo que alguns especialistas afirmem que a possibilidade de o presidente ser preso, estando fora do cargo, é pequena. O UCHO.INFO não vê a situação de forma tão simplista. O caso de Aécio está recoberto por maior fragilidade, uma vez que na próxima terça-feira (20) o STF decidirá sobre o novo pedido de prisão apresentado pela PGR.

Como contrapartida política, os tucanos esperam contar com o apoio do PMDB na corrida presidencial de 2018, como se os peemedebistas estivessem com moral para tanto. Quem conhece minimamente as entranhas da política nacional sabe que momentânea fidelidade política não passa de abraço de afogados.

Em outro vértice do imbróglio há uma situação política constrangedora a considerar. Se ficar fora do governo, mas permanecendo na base aliada, o PSDB terá o ônus, mas não desfrutará do bônus, que são os cargos na máquina federal. No contraponto, se abandonar o governo e deixar a base aliada, o PSDB terá de votar junto com a oposição – leia-se PT e seus puxadinhos ideológicos – ou se abster em todas as votações. Resumindo, no caso prevalece o dito popular do “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”.

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