Por razões óbvias, o frio Eduardo Cunha nega ter negociado seu silêncio com o Palácio do Planalto

Enganou-se quem imaginou que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado cassado e preso na esteira da Operação Lava-Jato, confirmaria à Polícia Federal que negociou seu silêncio com a cúpula do Palácio do Planalto. Até porque, se assim fizesse, estaria garantindo temporada mais prolongada atrás das grades, sem contar que arrastaria ao cárcere alguns velhos e conhecidos correligionários.

Em depoimento à PF, nesta quarta-feira (14), no âmbito do inquérito que investiga o presidente Michel Temer, Cunha, que encontra-se preso desde outubro passado, negou de forma categórica ter negociado seu silêncio com o governo federal.

Após o depoimento, que durou aproximadamente de uma hora e meia, o advogado do ex-parlamentar, Rodrigo Rios, relatou que foram feitas ao peemedebista 47 perguntas, das quais apenas 25 foram respondidas, todas relacionadas ao conteúdo da delação da JBS.

De acordo com o advogado, metade das questões estava relacionada à ação penal em que Cunha é acusado de ter recebido propina de empresas interessadas em sua influência para facilitar empréstimos do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). “Em relação a isso, é mais fácil responder dentro do processo”, afirmou Rodrigo Rios.

“Quanto aos fatos da JBS, o deputado ressaltou mais uma vez que o silêncio dele nunca esteve à venda, ou seja, ele nunca foi procurado nem pelo presidente Temer nem por interlocutores próximos ao presidente com intuito de comprar seu silêncio”, declarou Rios aos jornalistas.


Em acordo de colaboração premiada, o empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, que controla a JBS, entregou às autoridades a gravação de uma conversa que teve com Temer, nos porões dono Palácio do Jaburu, em março passado, quando o presidente teria avalizado a continuidade do pagamento de uma mesada a Cunha, em troca de seu silêncio na prisão. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, Joesley disse ter pagado um total de R$ 5 milhões ao ex-presidente da Câmara após sua prisão.

O advogado disse também que Cunha negou conhecer Roberta Funar, irmã do operador Lúcio Bolonha Funaro, presa na Operação Patmos em 18 de maio. A PF apreendeu R$ 1,7 milhão em espécie na residência dela, dinheiro repassado pela JBS para comprar o silêncio de seu irmão. Roberta foi filmada recebendo uma mala com R$ 400 mil de Ricardo Saud, ex-executivo da JBS.

Determina a Constituição que ninguém é obrigado a produzir provas contra si, mas quem conhece a fundo a política brasileira sabe que Eduardo Cunha é frio e calculista, sempre tendo se mostrado aos políticos mais próximos como um arquivo ambulante prestes a explodir. Durante o processo de cassação do seu mandato, Cunha mandou diversos recados ao Palácio do Planalto, prometendo nos bastidores que cairia atirando se fosse apeado do cargo.

Considerando que sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, já foi inocentada em ação penal decorrente da Operação Lava-Jato, o ex-deputado fará da temporada atrás das grades um negócio extremamente rentável. No momento em que entender que o valor amealhado é suficiente, Eduardo Cunha poderá negociar acordo de colaboração premiada e encurtar as penas que lhe serão impostas pela Justiça. Em um dos processos, ele já foi condenado a quinze anos de prisão.

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