Mercado reduz projeção para inflação e PIB, mas economia brasileira é o “cachorro correndo atrás do rabo”

Enquanto o presidente Michel Temer e o staff palaciano falam em retomada do crescimento econômico, a realidade da economia brasileira é bem diferente. Isso porque é vital a dependência da economia nacional em relação às reformas trabalhista e previdenciária, ambas escandalosamente desfiguradas e correndo o risco de não serem aprovadas. Sem a aprovação dessas propostas, o ajuste fiscal proposta pelo governo, ingrediente primordial para garantir o rearranjo da economia, irá pelos ares com certa facilidade.

Enquanto a crise política avança, causando estragos sem precedentes, o mercado financeiro reduziu mais uma vez a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017. De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (19) pelo Banco Central, o PIB deverá crescer 0,40% este ano, contra 0,41% da previsão anterior. Para o próximo ano, a aposta dos especialistas é de PIB de 2,20%, ante 2,30% da projeção da semana anterior.

Em relação à inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a expectativa do mercado é que encerre o corrente ano em 3,64%, contra 3,71% da estimativa anterior. Para o próximo ano, a aposta dos economistas para o IPCA é de 4,33%, contra 4,37% do cálculo da semana anterior.


Para os especialistas das cem maiores instituições financeiras em atividade no País, a taxa básica de juro, a Selic, encerrará 2017 e 2018 em 8,5% ao ano. Atualmente, a Selic está fixada em 10,25% ao ano. Esse prognóstico mostra que a inflação real no Brasil, respeitadas as projeções, encerrará 2017 em 4,86% ao ano.

O grande nó que persiste na economia brasileira está na conjunção dos índices, caso expostos a um cenário de crise política e desconfiança dos investidores em relação ao País. Com o desemprego em alta (14,5 milhões de pessoas sem trabalho formal) e a deterioração do poder de compra dos salários, o consumo tende a continuar em ritmo de queda. A solução poderia surgir da redução mais acentuada da Selic, mas isso afetaria a renegociação da dívida pública.

A questão é simples. Para renegociar a dívida pública, o País precisa oferecer condições vantajosas, como, por exemplo, a Selic em patamares não tão baixos. Afinal, a taxa básica de juro é um dos ingredientes usados no cálculo do rendimento dos títulos públicos. Ou seja, reduzir a Selic com mais velocidade poderia colocar o Brasil em situação de dificuldade junto aos credores. Por outro lado, manter a Selic em níveis elevados significa dificultar o crédito e consequentemente o consumo, que por sua vez compromete a produção e, de forma automática, a geração de empregos e a arrecadação de impostos.

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