Enquanto faz os últimos ajustes para desembarcar do governo Temer, PSDB já acena a Rodrigo Maia

(Pedro França – Agência Senado)

Fazendo jus à fama de sempre estar em cima do muro, o PSDB continua claudicante em relação ao desembarque do conturbado governo de Michel Temer. O grupo de tucanos conhecido como “cabeças pretas”, formado por políticos mais jovens, defende o rompimento imediato com o Palácio do Planalto, com o compromisso de apoiar o governo durante as votações das reformas trabalhista e previdenciária.

Esse desenho político pouco interessa a Temer, que esperava contar com o PSDB na Câmara dos Deputados durante a votação da denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que acusou o presidente da República de corrupção passiva. Dos sete tucanos que integram a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, seis já disseram que votarão a favor da autorização para a abertura de inquérito no STF contra Temer.

Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) não apenas defende de forma escamoteada o rompimento com o governo, mas já acena na direção do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e sucessor constitucional de Temer em caso de impedimento ou vacância do cargo.

O cenário que até dias atrás era favorável ao governo de Michel Temer, rompeu a semana na contramão dos interesses palacianos. Isso porque a prisão de Geddel Vieira Lima, o acordo de colaboração premiada do doleiro Lucio Bolonha Funaro e a delação ainda não confirmada de Eduardo Cunha faz com que o clima político em Brasília fica mais pesado e incerto.

“Se Eduardo Cunha fizer delação, aí não tem nem o que discutir mais. Se vier essa delação não sei nem quem vai ser citado, quem não vai ser, mas vai ser um semestre terrível para nós”, afirmou Tasso. O tucano reclama que “não dá para viver cada semana uma nova crise” e que “está na hora de buscar alguma estabilidade” para o Brasil.


Apesar de dizer que por enquanto é “precipitado” cogitar eventuais nomes para um processo de “transição”, Tasso Jereissati destaca que o candidato “tem que ser alguém que dê governabilidade” ao País até a eleição do próximo ano. “Isso não é algo difícil de encontrar”, minimizou o líder tucano.

A tese da governabilidade é algo pomposo e que exala sensatez política, mas na prática esse discurso não funciona de forma tão simples quanto parece. O próprio PSDB sabe disso, pois em 2005, no auge do escândalo do Mensalão do PT, p ex-presidente Fernando Henrique Cardoso urgiu em cena com tal teoria, apostando que seria possível derrotar Lula na eleição de 2006.

“Na travessia, se vier, têm várias opções. Se vier um afastamento pela Câmara, ele (Maia) é presidente por seis meses. Se Temer renunciasse já seria diferente, mas, se passar a licença para a denúncia, aí ele (Maia) é presidente por seis meses e tem condições de fazer, até pelo cargo que possui na Câmara, de juntar os partidos ao redor com um mínimo de estabilidade para o País”, disse Tasso.

Enquanto, diante de câmeras e microfones, o presidente do PSDB defende essa ideia, nos bastidores deve estar enfrentando dificuldades para conter os tucanos escaldados com o episódio de 2005. Afinal, se Rodrigo Maia ascender à Presidência em caráter definitivo – já conta com apoio de empresários de vários setores para isso –, a reeleição certamente estará em seus planos políticos.

É importante lembrar que ao assumir o comando da Câmara após a cassação do mandato de Eduardo Cunha, o deputado Rodrigo Maia prometeu publicamente que não concorreria à reeleição. Estando na Presidência da República, isso é cartada certa. E de novo o PSDB poderá ficar a ver navios, caso não entre na corrida presidencial com um candidato capaz de derrubar a mesmice política que devastou o País.

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