Como será o amanhã

(*) Carlos Brickmann

No Brasil, ensinava um lúcido ministro da Fazenda, Pedro Malan, até o passado é imprevisível. O que Malan não disse é que o futuro, esse sim, é previsível: seja qual for o resultado da campanha contra Michel Temer, o Brasil continuará sendo governado pelo PMDB. E continuará discutindo Renan, Geddel, Romero Jucá, Eunício e outros luminares da política.

O PMDB esteve no governo de Fernando Henrique, teve presença maior com Lula, cresceu com Dilma, é dominante com Temer: tem o presidente, os ministros mais importantes, e comanda até a oposição, com Jarbas Vasconcelos, em nome da ética, e Requião, muito próximo do PT. Tem os articuladores do Fica, Temer, como Moreira Franco e Eliseu Padilha, e os articuladores do “Fora, Temer”, como Renan e Sérgio Zveiter, relator da aceitação ou não da denúncia. Tem intimidade com o poder. Renan vem da época de Collor, e só não participou do governo Itamar. Geddel foi ministro de Lula, vice-presidente da Caixa com Dilma, ministro com Temer. Jucá, como o patriarca do partido, Sarney, é cria do regime militar.

E o presidente? Temer já mostrou o que é: a Economia ficou com os especialistas e a Política com fregueses de investigações. Rodrigo Maia é citado em inquérito da Lava Jato. Pouco se sabe o que pensa: é DEM, mas poderia ser PMDB. E é um homem de família: começou na política por ser filho de César Maia, DEM, e subiu como genro de Moreira Franco, PMDB.

As diferenças

Há diferenças importantes entre Temer e Maia. Temer foi três vezes presidente da Câmara Federal e sempre fez parte da elite da Casa. Fez carreira no Direito e tem ótima fama como constitucionalista. Maia estudou Economia mas não concluiu o curso e, desde os 26 anos, sua vida é a política. Faz parte do baixo clero da Câmara – os deputados com menor destaque, raramente ouvidos. O baixo clero é maioria na Câmara, mas só elegeu três presidentes: Severino Cavalcanti (perdeu o mandato, acusado de cobrar mesada do dono do restaurante da Casa e de outros concessionários de serviços); Eduardo Cunha, que, acusado de corrupção, perdeu o mandato e está hoje preso, condenado a 15 anos; e Rodrigo Maia.

A semelhança

Ambos, Temer e Rodrigo Maia, jamais foram campeões de votos. Michel Temer sempre se elegeu, mas com dificuldades; numa das eleições, foi o último colocado entre os eleitos por São Paulo. Maia tentou ser prefeito do Rio e teve 3% dos votos, apesar do apoio do pai.

Como está, fica

Traduzindo: fique Temer ou caia Temer, não há o menor risco de que a algo se modifique. Do jeito que a coisa vai, não mudam nem as moscas.

Quem sabe, sabe

Um fato deve ser destacado nessa guerra política de Brasília; a defesa de Temer, elaborada pelo advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. É de primeira linha, competentíssima. Como a questão é política, não jurídica, boa parte dos parlamentares não se preocupa com a acusação nem com a defesa: já tem o voto na cabeça, ou segue a posição de seus líderes. Mas a defesa é um trabalho exemplar, não só nos argumentos como no texto claro e compreensível. Independentemente de posição política, vale a pena ler.

Meio cheio…

Estranhíssima a decisão da Polícia Federal de incorporar a equipe da Lava Jato à Delecor, Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas. A PF informa que a medida fortalece a Lava Jato, pois facilita a participação de mais delegados nas investigações. Por que, então, não fazer o anúncio ao contrário, incorporando a Delecor à Lava Jato? No clima atual, em que tanta gente tenta melar as investigações, é óbvio que qualquer mexida na Lava Jato, exceto seu reforço, provoca a suspeita de que uma operação tão popular esteja sendo neutralizada pelos investigados.

…meio vazio

Há quem pense que a divulgação foi deliberadamente alarmista, como protesto pela restrição de verbas à Polícia Federal. É que o caso Lava Jato é uma das três medidas impopulares anunciadas pela PF: a suspensão do fornecimento de passaportes e a redução dos serviços nas rodovias são as outras duas. Os federais suspeitam da restrição de verbas. Acreditam que, a um tempo, serve para vingar-se das investigações e forçar a Polícia Federal a, sem dinheiro, reduzir as atividades que lançam luz sobre a corrupção.

Delata e paga

Surpresa no caso Joesley. O Tribunal de Contas da União decidiu incluí-lo num processo que apura desvios em financiamentos do BNDES à JBS. Acusam o grupo de ter cobrado do BNDES um ágio de R$ 2,50 por ação na compra da Swift – total, cerca de R$ 70 milhões. Em sua delação, Joesley não tocou no assunto. E pode por isso perder os privilégios que teve.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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