Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, conhecido como Dida, foi preso nesta quinta-feira (27) na Operação Cobra, 42ª fase da Operação Lava-Jato, sob a acusação de ter solicitado propina ao empreiteiro Marcelo Odebrecht ‘na véspera de assumir a presidência’ da petrolífera, afirma o Ministério Público Federal (MPF).
Bendine assumiu o comando da Petrobras em 6 de fevereiro de 2015, quando a Lava-Jato estava prestes a completar um ano (foi deflagrada em março de 2014). O pedido de propina , no valor de R$ 17 milhões, segundo os investigadores, foi feito pelo ex-presidente da estatal a Fernando Reis, executivo da Odebrecht. Contudo, apenas R$ 3 milhões foram pagos pela empreiteira.
“Há evidências indicando que, numa primeira oportunidade, um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões foi realizado por Aldemir Bedine à época em que era presidente do Banco do Brasil, para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial”, destacam os procuradores.
De acordo com o MPF, “as indicações são de que o pedido foi feito para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava-Jato”.
Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, que fecharam acordo de colaboração premiada no âmbito da lava-Jato, de chofre rechaçaram o pedido de propina feito por Bendine, pois acreditavam à época que o mesmo não teria como interferir em favor da empresa dentro do BB.
Segundo o MPF, diante de um novo pedido de propina e temendo ser prejudicada na petrolífera, a Odebrecht preferiu pagar R$ 3 milhões a Bendine. O valor foi repassado em três entregas em dinheiro vivo, no valor de R$ 1 milhão cada, na capital paulista. Os pagamentos foram realizados no ano de 2015, mais precisamente em 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas da empreiteira.
Um operador financeiro que atuava para Bendine confirmou, em 2017, o recebimento dos R$ 3 milhões pagos pela Odebrecht, mas tentou justificar a operação como sendo honorários referentes a uma consultoria prestada à empreiteira para viabilizar um empréstimo junto ao Banco do Brasil. Depois disso, o operador, no afã de dar aparente legalidade à operação, pagou os tributos correspondentes ao valor recebido dois anos antes.
“A colaboração premiada dos executivos da Odebrecht foi o ponto de partida das investigações. A partir daí, a investigação se aprofundou e revelou estreitos vínculos entre os investigados e permitiu colher provas de corroboração dos ilícitos narrados”, diz a força-tarefa.
Para chegar ao ponto de solicitar a prisão de Aldemir Bendine, os investigadores analisaram ligações telefônicas, levantaram dados sobre reuniões secretas em hoteis, troca de mensagens por celular, pagamentos feitos com cartões de crédito e custeio de despesas em favor de familiares do ex-presidente do BB.
Procurador da República e integrante da força-tarefa, Athayde Ribeiro Costa afirma que “é incrível topar com evidências de que, após a Lava Jato já estar em estágio avançado, os criminosos tiveram a audácia de prosseguir despojando a Petrobrás e a sociedade brasileira. Os crimes recentes são a prova viva de que a prisão é necessária para frear o ímpeto criminoso de um esquema que vem desviando bilhões há mais de década”.
“Há quem fale que as investigações contra a corrupção têm que acabar, mas casos como esse deixam claro que os criminosos não vão parar. Pregar o fim da Lava Jato é defender a liberdade para os ladrões do dinheiro público prosseguirem. Se queremos um Brasil com menos corrupção, é preciso ir até onde eles foram e estão dispostos a ir”, disse a procuradora Jerusa Burmann Viecili.
“Preocupa a todos nós o arrefecimento do investimento na Lava Jato pela direção da Polícia Federal”, destacou o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa no MPF/PR. “Das últimas sete operações da Lava Jato, seis foram pedidas pelo Ministério Público. É preciso preservar o trabalho da Polícia Federal nas investigações. O Ministro da Justiça e o Delegado-Geral têm poder e a consequente responsabilidade sobre o tamanho do efetivo, que foi reduzido para menos de metade”, completou.
Empréstimos horizontais
Para quem não se recorda, Bendine foi acusado de beneficiar uma amiga muito mais do que íntima, a socialite e apresentadora de televisão Val Marchiori, conhecida por suas absurdas extravagâncias comportamentais e de consumo.
Aldemir Bendine concedeu a Marchiori, em condições especialíssimas, uma linha de crédito subsidiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 2,7 milhões, a juro de 4% ao ano, bem abaixo do índice oficial de inflação da época. A operação não teria passado impune se Val Marchiori não tivesse restrições de crédito, além de ter apresentado um comprovante de renda cuja maior receita é a pensão alimentícia paga pelo pai de seus filhos, que recentemente trocou alianças com a socialite.
O financiamento foi realizado em nome da Torke Empreendimentos, mas o dinheiro foi usado para sublocar os caminhões para a empresa do irmão de Val, a Veloz Empreendimentos. Os avalistas, o irmão e a cunhada da apresentadora, também não apresentaram comprovante de renda.
Bendine negou ser amigo de Val Merchiori, mas seu ex-motorista do Banco do Brasil, Sebastião Ferreira da Silva, revelou ter buscado várias vezes a socialite a pedido do presidente da instituição.
Sebastião já fez várias denúncias de irregularidades cometidas por Bendine. Em um dos depoimentos ao Ministério Público, o motorista teria dito que já fez vários pagamentos em “dinheiro vivo” a mando de Aldemir Bendine.
“Ferrerinha”, como é conhecido, teria conduzido o presidente do BB com uma sacola com “mações” de R$ 100. O dinheiro seria um empréstimo a Marcos Fernandes Garms, amigo e irmão-camarada do novo presidente da Petrobras.