A União Europeia (UE) expressou preocupação, nesta quarta-feira (26), em relação às novas sanções contra a Rússia aprovadas no dia anterior pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Reações semelhantes vieram de Moscou, bem como do Irã, que também é alvo das medidas.
O projeto de lei, que precisa da aprovação do Senado antes de seguir para sanção do presidente Donald Trump, inclui medidas que determinam a punição de empresas que atuem em gasodutos na Rússia. Segundo a UE, isso ameaçaria o abastecimento energético de todo o continente europeu.
“O projeto de lei pode ter efeitos unilaterais não intencionais que afetariam os interesses de segurança energética da UE”, observou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em comunicado. “‘América em primeiro lugar’ não pode significar que os interesses da Europa fiquem por último”, completou o diplomata, citando um famoso slogan do governo Trump.
Apesar de dizer que o bloco está “totalmente comprometido com as sanções ao regime russo”, Juncker alertou para possíveis retaliações caso as preocupações europeias não sejam levadas em consideração. “Estamos prontos para agir apropriadamente em questão de dias”, afirmou.
A mesma preocupação foi externada por países do bloco econômico, como Alemanha e França, que temem que empresas europeias que atuam em gasodutos russos sejam prejudicadas pelas penalidades que seriam impostas sob as sanções. Uma delas seria limitar o acesso dessas companhias a investimentos americanos.
A porta-voz Ulrike Demmer afirmou nesta quarta-feira que Berlim se opõe em princípio a “sanções com efeitos extraterritoriais”, mas que “examinará detalhadamente o projeto de lei aprovado”. O Ministério do Exterior do país, também por meio de um porta-voz, declarou que Washington não tem o direito de ditar como empresas europeias fazem seus negócios com países terceiros.
Rússia reage
Moscou lamentou a aprovação das sanções pelos deputados americanos, descrevendo-a como “uma notícia muito triste” para o futuro das relações bilaterais, “e não menos lamentável do ponto de vista do direito internacional e das relações comerciais internacionais”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Mais cedo, o vice-ministro do Exterior russo, Serguei Riabkov, havia feito uma declaração semelhante. “Os autores e patrocinadores deste projeto de lei dão um passo muito sério para a destruição das possibilidades de normalizar as relações com a Rússia”, alertou.
“Portanto, veremos Washington como uma fonte de perigo. Isso precisa ser entendido e é preciso agir em consequência, de maneira pensada, racional e tranquila”, completou Riabkov, lembrando ainda que a Rússia advertiu em dezenas de oportunidades que “esse tipo de ação não ficará sem resposta”.
O presidente do Irã, Hassan Rohani, também prometeu retaliação caso o projeto de lei, que inclui sanções a seu país e à Coreia do Norte, além da Rússia, avance. “Daremos o passo que julgarmos necessário em prol dos interesses do nosso país, e continuaremos nosso caminho sem dar atenção a suas sanções ou políticas”, declarou o líder, segundo a agência de notícias iraniana ISNA.
As sanções envolvendo o Irã são uma resposta, segundo os EUA, a atividades terroristas, abusos dos direitos humanos e seu programa de mísseis balísticos. Já em relação à Coreia do Norte, a medida menciona também seu programa de mísseis balísticos e de armas nucleares, bem como o uso de mão de obra escrava.
Novas sanções
O novo pacote de sanções foi aprovado pela Câmara dos Representantes por maioria esmagadora na terça-feira. Em relação à Rússia, buscou responder à suposta interferência de Moscou nas eleições presidenciais do ano passado, bem como à anexação da Crimeia pelo país em 2014.
O projeto de lei, que também inclui sanções ao Irã e à Coreia do Norte, passou na Casa com 419 votos favoráveis e apenas três contrários, apesar de o governo do presidente Donald Trump ter pedido reiteradamente aos congressistas para que fossem mais flexíveis em relação à Rússia.
Há seis meses no poder, Trump tem sinalizado disposição para cooperar com o governo russo e chegou a questionar as suspeitas de que Moscou interferiu na corrida eleitoral em 2016. Investigações em curso nos EUA apuram essa suposta ingerência, bem como possíveis ligações entre a campanha republicana e o Kremlin para favorecer a eleição de Trump. Ambos negam conluio.