Uso das Forças Armadas no Rio será inócuo se o governo não combater a entrada de drogas no País

O presidente Michel Temer autorizou, nesta sexta-feira (28), o emprego das Forças Armadas para a “Garantia da Lei e da Ordem no Estado do Rio de Janeiro”, por meio de decreto presidencial publicado em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU). As equipes ficarão no Estado até o dia 31 de dezembro.

“O emprego das Forças Armadas será precedido de aprovação do planejamento de cada operação pelos ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública, da Defesa e Chefe do Gabinete de Segurança Institucional”, ressalta o texto.

Um contingente de 8,5 mil militares já está nas ruas do Rio de Janeiro para reforçar a segurança no Estado, mas, segundo o ministro Raul Jungmann, da Defesa, o primeiro passo das Forças Armadas será o “reconhecimento” das áreas dominadas pelo crime.

Considerando que o crime organizado criou um Estado paralelo nas comunidades do Rio, a bandidagem continuará agindo de forma deliberada, até que uma medida efetiva seja tomada para decretar o fim dessa aberração legal.

O envio de forças militares para o Rio de Janeiro, assim como para outras regiões do País que enfrentam o mesmo problema, é uma medida paliativa que serve para estancar momentaneamente uma situação de caos na segurança pública. Os integrantes das Forças Armadas não foram treinados para o policiamento urbano, por isso é questionável a eficácia da operação no longo prazo.


Ademais, será sempre inócua qualquer medida para restabelecer a lei e a ordem se o Estado brasileiro, como um todo, não tomar providências eficazes para combater o tráfico de entorpecentes nas duas pontas: no atacado e no varejo.

O Brasil tem 17 mil quilômetros de fronteira com dez países sul-americanos, sendo que apenas 4% dessa distância são monitorados. É impossível não reconhecer a dificuldade de monitorar toda a fronteira verde-loura, mas serviço de inteligência e investimento no patrulhamento permanente são medidas que poderiam minimizar a entrada de drogas no País.

A Bolívia, país que faz fronteira com o Brasil, produz anualmente 300 toneladas de pasta-base de cocaína, quantidade que, misturada a outros produtos químicos, ao menos quintuplica. Infelizmente, o Brasil é o principal consumidor de cocaína do planeta, sendo que o excedente da produção boliviana da droga é enviada ao exterior a partir do território brasileiro.

De maneira pontual a ação das Forças Armadas no Rio de Janeiro produzirá resultados, mas no momento em que os militares deixarem o estado do Sudeste o crime organizado retomará suas atividades com impressionante facilidade.

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