Líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli abusou da hipocrisia na votação da denúncia contra Temer

Na votação da denúncia por corrupção contra o presidente Michel Temer, no plenário da Câmara dos Deputados, o PSDB mostrou mais uma vez que continua rachado, situação que vem desde os primórdios da legenda. Famosos por ficar em cima do muro em situações difíceis e agindo como se usassem “punhos de renda”, os tucanos tentaram passar à opinião pública brasileira um recado que não condiz com a realidade.

Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Ricardo Tripoli cumpriu à risca as ordens do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que vem errando na dose ao tentar se consolidar como candidato do partido à corrida presidencial do próximo ano. Alckmin, que de “bom moço” só tem a estampa, corre o risco de não apenas perder a disputa rumo ao Palácio do Planalto, mas de levar o partido definitivamente ao buraco. Afinal, os brasileiros já começaram a separar o joio do trigo.

Ao encaminhar a votação no plenário da Câmara, na quarta-feira (2), Tripoli surpreendeu muitos tucanos ao recomendar voto a favor do prosseguimento da denúncia, como se o PSDB não fizesse parte do governo. Aliás, o PSDB embarcou no governo de Michel Temer porque essa era a única solução para um partido que sonha em retornar ao Poder central desde o fim da era FHC e precisa estar vivo eleitoralmente até 2018.

Ricardo Tripoli abusou da hipocrisia ao afirmar, da tribuna do plenário, que o brasileiro não mais aguenta escândalos de corrupção. Isso é fato, ninguém pode negar, mas o PSDB está longe de ser o último bastião da moralidade pública. Tripoli deveria fazer um exame de consciência e pedir desculpa aos brasileiros, pois há alguns tucanos acusados de corrupção, como Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira Filho, entre outros. Sem contar Aécio Neves, político pífio e embusteiro que foi flagrado extorquindo o empresário-delator Joesley Batista, sendo que a batida de carteira foi rebatizada como “pedido de empréstimo”.

Ademais, Ricardo Tripoli não é a pessoa mais indicada para falar sobre escândalos de corrupção e outros quetais. Tripoli defende, sem pudor e com todas as letras, o tucano Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais e condenado a vinte anos e dez meses de prisão por peculato e lavagem de dinheiro, no âmbito do escândalo conhecido como “Mensalão Mineiro”.

Não obstante, Ricardo Tripoli deveria ter repensado o próprio discurso, uma vez que em São Paulo, seu reduto eleitoral, um companheiro de legenda poderá, a qualquer momento, mandar o ninho tucano pelos ares. Trata-se de Paulo Vieira de Souza, ex-presidente da Dersa e acusado por delatores da Operação Lava-Jato de ter recebido propina em nome do PSDB.


Conhecido como Paulo Preto, Souza foi citado na delação do doleiro Adir Assad, preso na esteira da Lava-Jato desde agosto de 2016, que propôs acordo de colaboração premiada. Aos investigadores, Assad revelou os detalhes do pagamento de R$ 100 milhões em propina a Paulo Preto, ressaltando que os repasses ocorreram entre os anos de 2007 e 2010, período em que José Serra era governador.

Paulo Vieira de Souza comandava a Dersa por ocasião de um suposto esquema de corrupção para favorecer empreiteiras nas obras do Rodoanel Sul. A barganha tinha por objetivo conseguir dinheiro de caixa 2 para fins eleitorais, como revelaram os delatores Arnaldo Cumplido de Souza Couto, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Carlos Armando Paschoal, Luiz Eduardo da Rocha Soares, Roberto Cumplido, Fábio Andreani Gandolfo e Pedro Novis.

Em 2007, o então governador José Serra publicou decreto impondo às empresas renegociações de contratos mantidos com o poder público. Após renegociação de valores em relação ao consórcio liderado pela Odebrecht (Rodoanel), Paulo Preto solicitou pagamento de 0,75% do valor recebido por cada empresa, sob a ameaça de o governo promover de alterações contratuais desfavoráveis. A partir dessa investida, a Odebrecht teria desembolsado R$ 2,2 milhões em favor da offshore Circle Technical Company Inc, pertencente a Amaro Ramos, acusado de ser operador financeiro do PSDB.

Em relação à liberação de emendas por parte do governo, Tripoli também abusou da desfaçatez. Disse o líder dos tucanos na Câmara; “Nosso posicionamento não está condicionado ao aparelhamento do Estado, à liberação de emendas ou a qualquer benesse palaciana”.

Ricardo Tripoli certamente sofre de amnésia de conveniência, pois é impossível ignorar o esquema criminoso operado pelo Palácio do Planalto, à época de FHC, o “punho de renda” mor, para conseguir aprovar a PEC do segundo mandato.

Reza a sabedoria popular, principalmente no interior do País, que “passarinho que está na muda não pia”. Como político emplumado e de bico fino, Ricardo Tripoli perdeu a oportunidade de ficar calado. O PSDB está acreditando ser possível subir a rampa do Palácio do Planalto sob o comando de Geraldo Alckmin. Não precisa ter doses extras de massa cinzenta para descobrir que esse é mais um devaneio da cúpula tucana. Basta sair às ruas e perguntar às pessoas sobre esse plano mirabolante e conferir as respostas.

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