Qualquer cargo eletivo tem suas formalidades e exige postura adequada por parte do ocupante, mas a grande imprensa brasileira está perdendo a razão ao insistir na cruzada para apear o peemedebista Michel Temer da Presidência da República. Vencida a denúncia por corrupção passiva oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), veículos de comunicação retomaram a questão dos encontros presidenciais fora da agenda oficial, como se isso jamais tivesse ocorrido em governos anteriores.
Temer precisa ater-se à liturgia do cargo, mesmo em meio à grave crise política que chacoalha o Brasil em todos os seus quadrantes, mas não se pode aceitar que uma reunião de última hora não incluída na agenda oficial seja transformada em um enorme pecado.
Sucessora de Rodrigo Janot no comando da PGR, a partir de 18 de setembro, a subprocuradora Raquel Dodge reuniu-se com o presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, na noite de terça-feira (8), ocasião em que tratou dos detalhes da cerimônia de posse, que acontecerá no Palácio do Planalto.
O encontro, que não constava da agenda oficial da Presidência, serviu para que ambos ajustassem a data e a hora da cerimônia de posse, uma vez que o presidente tem viagem marcada aos Estados Unidos no dia 18 de setembro, uma segunda-feira.
É fato que essas minúcias poderiam ser tratadas pelas assessorias de Temer e Dodge, mas o encontro tornou-se rumoroso por ter ocorrido no mesmo dia em que o presidente da República arguiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspeição Rodrigo Janot, uma vez que, segundo a defesa do peemedebista, “já se tornou público e notório que a atuação do procurador-geral da República, em casos envolvendo o presidente da República, vem extrapolando em muito os seus limites constitucionais e legais inerentes ao cargo que ocupa”.
Por não constar da agenda presidencial, o encontro entre Michel Temer e Raquel Dodge não deveria ser alvo de especulações por parte de setores da imprensa que tornou-se viciada, ao longo dos últimos três anos, em escândalos diários, como se no Brasil inexistissem assuntos para serem noticiados.
Quanto mais publicidade aos atos de um governo, melhor, mas querer ver problema onde não existe é falta de imaginação ou competência profissional. Esses profissionais da comunicação deveriam se preocupar com os encontros oficiais que constam da agenda, pois nessas reuniões podem ser tomadas decisões contra os interesses e as necessidades do País.
Quando participou oficialmente de evento no Palácio do Planalto, ao lado da “companheira” Dilma Rousseff, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, usou o microfone palaciano para, diante de uma claque obediente e amestrada, afirmar que todos sairiam Às ruas de armas em punho caso a petista fosse apeada do cargo. Um crime inconteste, pois trata-se de incitação à violência, que a imprensa ignorou no dia seguinte.
O então presidente Lula também participou de encontros fora da agenda oficial. Durante meses a fio, pelo menos três vezes por semana, um alto integrante do Judiciário cruzava a Praça dos Três Poderes, normalmente no horário do almoço, para “bebericos” no gabinete presidencial. Esses encontros costumeiros, revelados ao UCHO.INFO pelo tal membro do Judiciário, não constavam da agenda.