Quando surgiu a notícia de que o governo do presidente Michel Temer (PMDB) analisava a possibilidade de aumentar a alíquota do Imposto de Renda, como forma de buscar um caminho para cumprir a meta fiscal (déficit de R$ 139 bilhões), não demorou muito para que a informação fosse desmentida. Em seguida, sobraram em todo o País especialistas (sic) em política a dizer que tratava-se de um tiro no pé dado por um governo desestruturado e decadente.
Quem conhece em doses mínimas a política nacional, em especial no âmbito federal, sabe que o aludido vazamento não foi por acaso, mas proposital. Foi a saída encontrada pelo governo para mostrar à sociedade a necessidade de criar uma fonte de arrecadação para fazer frente ao compromisso de manter o déficit fiscal em R$ 139 bilhões.
Com isso, o Palácio do Planalto promoveu um choque na opinião pública, ao mesmo tempo em que colocou a classe política em situação de desconforto, pois é inaceitável a postura dos parlamentares diante da reforma da Previdência. Deputados alegam não haver clima para a votação de uma matéria impopular, mas na verdade está em cena, mais uma vez, o amaldiçoado escambo político.
Cientes dos problemas enfrentados pelo governo, parlamentares cobram cargos para votar a reforma previdenciária, sem a qual as contas públicas federais continuarão em situação de penúria. A justificativa dos deputados é que a aprovação de uma matéria como essa produziria efeitos negativos junto ao eleitorado. Tanto é assim, que alguns políticos afirmam que tal proposta deve ser votada no começo do governo, não a poucos meses do seu final. Isso porque no Brasil, onde a memória curta reina absoluta, o tempo faz com que o eleitor esqueça determinados fatos, deixando o desgaste político para trás.
Em um país movido por escândalos quase que diários, não há como confiar na classe política, mas é preciso reconhecer que alguns dos frequentadores desse universo são extremamente habilidosos. Que esbanja habilidade nos bastidores do Congresso é o próprio presidente Michel Temer, que na maior parte do tempo esteve deputado.
Esse detalhe pode parecer pouco perto dos entraves enfrentados pelo governo, mas é uma ferramenta importantíssima em momento de crise. Alguém há de ressaltar o fisiologismo que domina a política nacional, mas tal cenário não desaparecerá tão cedo, até porque é um detalhe cultural do setor.
De tal modo, o Palácio do Planalto conseguiu, com o fracassado (sic) anúncio de possível aumento da tabela do Imposto de Renda, transferir a vilania do desajuste fiscal aos parlamentares, livrando-se de um problema enorme e de uma enxurrada de críticas.
Não se pode fechar os olhos para a realidade, mesmo que essa exija sacrifício por parte da sociedade, que precisa aceitar que governos passados promoveram um estrago econômico sem precedentes. Ou seja, o melhor caminho é aprovar o quanto antes a reforma da Previdência, pois alterar a meta fiscal apenas para mais um “faz de conta” terá impacto nos investimentos no País.