“Facada nas costas” do Democratas tem tudo para se transformar em briga de foice no escuro

    A “facada nas costas”, termo usado pelo deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para ilustrar a traição do governo de Michel Temer em relação aos planos do Democratas crescer como legenda, pode fazer estragos muitos maiores. Essa figura de linguagem, que causou preocupação em muitos gabinetes do Palácio do Planalto, por certo ultrapassa os limites da Praça dos Três Poderes e, passando pelos estados, avança sobre a seara da eleição de 2018.

    Vivendo um período de “vacas magras” desde o surgimento do PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, o Democratas equilibrava-se sobre o fio da navalha para não ser engolido por outra agremiação política, como sempre aconteceu no Brasil. O DEM ganhou fôlego extra com a eleição de ACM Neto à prefeito de Salvador, sendo que o tonificante político surgiu com a chegada de Rodrigo Maia à presidência da Câmara dos Deputados.

    Em mandato tampão, Maia substituiu Eduardo Cunha na presidência da Câmara e foi reconduzido ao cargo, mesmo tendo prometido que não disputaria a reeleição. Como em política palavras são devoradas pelo vento, Rodrigo Maia transformou-se na tabua de salvação do Democratas.

    Pronto para crescer e sonhar com os áureos tempos do velho e antecessor PFL, o Democratas passou a flertar com o espólio político do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que deixou a base aliada ao governo de Michel Temer. Longe da ideologia, parlamentares do PSB sabem que estar na oposição dificulta qualquer projeto de reeleição. Por conta disso, o DEM passou a cobiçar alguns socialistas (sic) do PSB.

    Temer e sua trupe sabem que um voo mais alto do Democratas pode dificultar a situação do governo, pois o partido terá de adotar um discurso consonante com a voz das ruas. Considerando que a popularidade do presidente da República não é das melhores, pelo contrário, os palacianos decidiram recuar na investida rasteira e silenciosa contra o DEM.

    A questão é simples e objetiva: o Democratas tomou gosto pelo poder e passou a sonhar de forma mais ousada. Para dar vazão a esses planos, os democratas se aproximaram com rapidez e destreza de João Doria, prefeito de São Paulo, que em termos políticos vem trabalhando diuturnamente como pré-candidato à Presidência da República. Nesse cenário o DEM viu a possibilidade de subir a rampa do Palácio do Planalto com a faixa presidencial no peito.


    Doria diz que não é candidato, mas nos bastidores não nega o plano que está sendo cumprido à risca. O problema maior do alcaide paulistano atende pelo nome de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e que tem a preferência do PSDB para disputar a eleição presidencial do próximo ano. Alckmin e Dória são tucanos, mas o prefeito poderá trocar de partido, como antecipou o UCHO.INFO há alguns meses. Tanto é assim, que Doria receberá caciques do DEM para um jantar em sua casa na capital paulista.

    O Democratas tem o direito que querer crescer com partido e também de sonhar com a possibilidade de ocupar o principal gabinete do Palácio do Planalto. Para isso, açambarcar o espólio político do PSB é uma estratégia recheada de lógica.

    É nesse enxadrismo político que a “facada nas costas” pode se transformar em “chacina” política. Caso João Doria migre para o DEM e seja indicado para disputar a corrida presidencial do próximo ano, Alckmin terá um problema considerável em seu projeto político. O vice-governador de São Paulo, Márcio França, é do PSB e assumirá o comando da principal unidade da federação com a desincompatibilização de Alckmin, prevista para março de 2018.

    França tem o direito de concorrer à reeleição, o que exigirá apoio político dentro e fora do estado. Isso significa que não se deve descartar a ida de Márcio França para o Democratas. Nesse complexo quebra-cabeça há um detalhe a ser considerado. Um dos principais aliados políticos de João Doria é o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite, que é do Democratas. Experiente politicamente e há anos na vereança, Leite é reconhecido por sua habilidade nos bastidores do poder.

    A confusão não é pequena e vai mais além. Se Doria sair candidato à Presidência pelo Democratas, a prefeitura de São Paulo passará às mãos de Bruno Covas, tucano de quatro costados (é neto de Mário Covas) e visceralmente ligado ao governador Geraldo Alckmin, que controla perto de 60% da administração da capital paulista.

    Alguém há de perguntar o que a traição do Palácio do Planalto em relação ao DEM tem a ver com a briga interna do tucanato pela escolha do presidenciável do partido. Michel Temer precisa do apoio do PSDB para escapar da segunda denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República. E os tucanos ligados a Alckmin podem ajudar o presidente, mas essa “mão amiga” não custa barato. Em suma, a “facada nas costas” tem todos os ingredientes para se transformar em briga de foice no escuro.

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