Manobra para salvar Aécio Neves objetiva blindar políticos corruptos investigados na Lava-Jato

Quem frequenta o Congresso Nacional sabe que os discursos coléricos e a troca de farpas entre adversários políticos fazem parte de bem ensaiada encenação, pois em jogo estão a briga pelo poder e a defesa de interesses comuns. O que significa que nos bastidores os acordos destoam dos enfrentamentos que ocorrem nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Afinal, a ordem de todos os dias é enganar a opinião pública.

Prova maior desse cenário decadente é a mobilização de muitos políticos das mais distintas correntes ideológicas para salvar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), alvo de decisão do Supremo Tribunal Federal que determina seu afastamento do mandato parlamentar por envolvimento em novo escândalo de corrupção (leia-se delação da JBS).

Enquanto critica a decisão da Primeira Turma do STF e invoca a Constituição para destacar a ilegalidade das medidas cautelares que lhe foram impostas, Aécio Neves opera nos bastidores da política nacional para reverter o quadro atual.

Longe das coxias do poder, o senador tucano alega que as gravações do empresário Joesley Batista “foram feitas de forma planejada a forjar uma situação criminosa”. Aécio não tem o dever de se declarar culpado, mas não pode falar em tentativa de forjar situação criminosa.


Se o pedido de dinheiro (R$ 2 milhões) ao dono da JBS foi um ato lícito, como o senador sugere, não havia motivo para o valor ter sido entregue em uma mala a Frederico Vasconcelos, primo do senador, e levado a Belo Horizonte de carro. Bastava uma transferência bancária.

Por outro lado, políticos da oposição engrossam o coro em favor de Aécio Neves, porque muitos estão na mira das investigações da Operação Lava-Jato e correm o risco crescente de enfrentar situação semelhante.

A Executiva Nacional do PT divulgou, nesta quarta-feira (27), nota em que afirma que o Senado “precisa repelir”, rejeitando a decisão STF de afastar Aécio do mandato parlamentar. No documento, o PT ressalta não ter motivos para defender o senador mineiro, considerado responsável pela campanha de “ódio e mentiras” que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, “mas temos todos os motivos para defender a democracia e a Constituição”.

O Brasil foi tomado em todos os seus quadrantes pelo banditismo político, mas há quem ouse falar em democracia e respeito à Constituição. Esse oportunismo bandoleiro do PT tem razão de ser, pois a presidente nacional da legenda, senadora Gleisi Helena Hoffmann, é acusada de corrupção – já é ré em ação penal decorrente da Lava-Jato que tramita no STF. Em suma, o corporativismo delinquente voltou a dominar a cena na política nacional.

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