MPF denuncia irmãos Joesley e Wesley Batista por manipulação do mercado financeiro

(Werther Santana – Estadão)

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou nesta terça-feira (10/10) os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, por uso de informação privilegiada e manipulação de mercado financeiro. Os empresários são acusados de lucrar R$ 100 milhões com a compra de dólares pouco antes do vazamento do conteúdo de seus acordos de delação premiada.

De acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), o J&F comprou US$ 1 bilhão às vésperas do dia 17 de maio, quando o acordo de delação premiada fechado entre os empresários e a Procuradoria-Geral da República (PGR) foi revelado pela imprensa. Os irmãos teriam ainda vendido mais de R$ 327 milhões em ações da JBS, controlada pelo grupo, na época das negociações do acordo.

O MPF alega que os irmãos sabiam que a divulgação do acordo tinha potencial para mexer com o mercado financeiro, causando possível queda das ações da empresa e a alta do dólar. Por isso, os empresários teriam usado as informações privilegiadas para realizar operações financeiras e reduzir o prejuízo do grupo.

No dia seguinte ao anúncio da delação, a Bolsa fechou na maior queda em nove anos. O dólar, por sua vez, registrou alta de 8%, resultando em lucros milionários para os delatores, segundo a PF. Funcionários do grupo confirmaram o caráter atípico das operações. A compra de dólares ocorreu entre 28 de abril e 17 de maio.

A empresa JBS chegou a admitir a operação antes do anúncio da delação premiada, mas informou que o objetivo não era obter lucro, mas proteger financeiramente seus negócios. As movimentações estavam “alinhadas à política de gestão de riscos e proteção financeira” da empresa, informou a JBS na época.

Na denúncia, o MPF afirma que Wesley foi o responsável pela compra de dólares, cuja pena varia de três a dezoito anos de prisão, e Joesley seria o articulador da manipulação do mercado, cuja pena fica entre dois e treze anos de detenção.


Irmãos presos

Pivô do escândalo que resultou na maior crise política do governo de Michel Temer, Joesley está preso desde o último dia 10 de setembro, após suspeitas de que ele teria omitido informações em seus depoimentos às autoridades, o que anularia o acordo de delação e a imunidade garantida por ele.

Já Wesley, diretor-presidente da JBS, foi preso preventivamente três dias mais tarde, justamente devido ao suposto uso de informações privilegiadas para obter lucros no mercado financeiro.

Na ocasião da detenção, os advogados dos irmãos Batista afirmaram, em nota, que a prisão de ambos “no inquérito de insider information é injusta, absurda e lamentável” (o termo correto é insider trading). Eles ainda acusam o Estado brasileiro de utilizar todos os meios para “promover uma vingança contra aqueles que colaboraram com a Justiça”.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vinculada ao Ministério da Fazenda e que regula e fiscaliza o mercado de capitais, colaborou com informações para a denúncia, mas paralelamente abriu processos administrativos para investigar o caso. (Com agências de notícias)

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