Acusações de assédio sexual expõem lado obscuro de Hollywood e chacoalham indústria do cinema

(Getty Images)

O escândalo de acusações de assédio sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein, um dos mais conhecidos e influentes de Hollywood, ganhou proporções ainda maiores nesta quarta-feira (11) após o surgimento de novas denúncias por parte de atrizes e ex-funcionárias de sua empresa.

O caso expõe um comportamento que, segundo as denunciantes, há décadas vitima mulheres na indústria cinematográfica sem o devido debate público. As revelações sobre Weinstein são apenas “a ponta do iceberg”, afirmou o diretor e ator Rob Schneider ao site TMZ.

No dia 5 de outubro, o jornal “The New York Times” publicou uma reportagem sobre uma série de abusos cometidos pelo produtor, com base em depoimentos anônimos de ex-funcionárias de Weinstein e da atriz Ashley Judd. “Mulheres conversam entre si sobre Harvey há muito tempo, já passou da hora de termos essa conversa publicamente”, afirmou a atriz.

Desde então, denúncias de assédio sexual contra ele não param de surgir. As acusações fizeram com que o produtor fosse demitido da empresa da qual era fundador, a Weinstein Company. Elas remontam à década de 1990, época em que ele estava à frente da produtora Miramax, inicialmente independente e depois comprada pela Walt Disney Company.

Reação da indústria cinematográfica

Weinstein, de 65 anos, nega as acusações. A Weinstein Company afirma que não tinha conhecimento da má conduta de seu fundador. Mas, de acordo com outra reportagem do “The New York Times” publicada na quarta-feira (11), a empresa, no mínimo desde 2015, estava ciente do pagamento de acordos extrajudiciais com três ou quatro mulheres envolvendo acusações de abusos sexuais.

Segundo o jornal nova-iorquino, os advogados de Weinstein fecharam acordos extrajudiciais com ao menos oito mulheres, entre elas a atriz Rose McGowan e a modelo Ambra Battilana Gutierrez.

“Reconheço que a maneira como me comportei com colegas no passado causou muita dor e me desculpo sinceramente por isso”, disse Weinstein em comunicado. “Apesar de tentar melhorar, sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer”, disse, sem se referir diretamente a nenhuma das acusações.


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e o Festival de Cannes se manifestaram publicamente, repudiando o comportamento abusivo de Weinstein. No Reino Unido, a Academia Britânica de Artes de Cinema e Televisão (Bafta) afirmou que decidiu suspender de imediato a afiliação do americano.

A Academia de Hollywood, organizadora da maior premiação do cinema mundial, o Oscar, anunciou que realizará uma reunião especial para discutir as alegações e avaliar medidas punitivas ao produtor. Nos últimos anos, a Academia premiou 81 produções de Weinstein pela Miramax e pela Weinstein Company. Em 1999, ele ganhou o Oscar pelo filme “Shakespeare apaixonado”.

“Todos sabiam o que ele fazia”

Na última terça-feira (10), a revista “New Yorker”, após investigar o caso durante dez meses, publicou novas denúncias por parte de 13 mulheres, incluindo três acusações de estupro feitas pelas atrizes Asia Argento, Lucia Evans e uma jovem que preferiu se manter anônima.

No mesmo artigo, as atrizes Mira Sorvino, Emma de Caunes, Rosanna Arquette, Jessica Barth e a ex-funcionária da Weinstein Company Emily Nestor relataram agressões sexuais por parte de Harvey.

A atriz francesa Léa Seydoux escreveu no jornal britânico “The Guardian” que que o produtor usava o poder que tinha para exigir favores sexuais. “Todos sabiam o que ele fazia, e ninguém fez coisa alguma.”

As revelações abriram o caminho para que outras mulheres falassem abertamente sobre episódios semelhantes envolvendo o produtor. As atrizes Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Judith Godrèche e Katherine Kendall afirmaram ao “The New York Times” terem sido abordadas por Weinstein nos anos 1990. Muitas mulheres temiam denunciar publicamente o poderoso produtor hollywoodiano com receio de que ele pudesse arruinar suas carreiras.

A esposa de Weinstein, Georgina Chapman, afirmou à revista “People” que vai deixar o marido, com quem tem dois filhos. Weinstein declarou ao jornal “The New York Post” que está profundamente arrasado. “Perdi milha esposa e meus filhos, a quem amo mais do que qualquer coisa”, disse Weinstein. “Espero que um dia possamos nos reconciliar.” (Com agências internacionais)

apoio_04