Divulgação de vídeos da delação de Funaro faz parte de briga política e pode mandar o País pelos ares

(Divulgação)

Quem chega ao poder dificilmente aceita abandoná-lo. Na melhor das hipóteses, que lá está deseja manter o status quo ou galgar posições. Com a política nacional vivendo um momento crítico, em especial por causa dos muitos casos de corrupção, a briga pelo poder tornou-se algo inconcebível.

A divulgação no site da Câmara dos Deputados dos vídeos contendo trechos da delação do doleiro Lúcio Bolonha Funaro é prova inconteste que mais uma vez o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), está disposto a tudo para enfrentar Michel Temer.

Os vídeos foram disponibilizados no portal da Câmara no último final de semana, dias antes de a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) votar o relatório que pede o arquivamento da segunda denúncia contra o presidente da República.

Maia mostrou indignação diante da declaração do advogado Eduardo Carnelós, responsável pela defesa de Temer, que classificou como criminoso o vazamento dos vídeos. O presidente da Câmara alegou que a divulgação do material ocorreu dentro do que determina a legislação, mas é preciso reconhecer que Carnelós está com a razão, mesmo tendo retratado após a reação de Rodrigo Maia.

É importante ressaltar que delação premiada é meio de prova, mas está longe de ser prova suficiente para imputar determinado crime a alguém. Mesmo que homologada pela Justiça, a delação depende de comprovação dos fatos narrados pelo colaborador. No caso de Lúcio Funaro, muitas das informações não poderão ser provadas, pois estão baseadas apenas em declarações e troca de mensagens. O que não significa que os políticos envolvidos sejam inocentes.


Relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luiz Edson Fachin concordou em enviar os vídeos do doleiro ao presidente da Câmara, mas no domingo (15) sua assessoria informou que o magistrado não levantou o sigilo das investigações. Isso significa que os vídeos não poderiam ser divulgados.

Essa queda de braços entre Rodrigo Maia e o presidente da República passa por uma disputa que tem como pano de fundo o aumento da bancada do Democratas, principalmente na Câmara. O partido está de olho na corrida presidencial de 2018 e deseja entrar no próximo ano mais encorpado em termos de número de parlamentares.

O Democratas, que quase desapareceu do mapa político nacional com a criação do PSD, trabalha nos bastidores para cooptar deputados da chamada base aliada que começam a sinalizar com a possibilidade de deserção. No contraponto, o Palácio do Planalto vem atuando para dificultar essa manobra democrata.

Ademais, na condição de substituto imediato do presidente da República, Rodrigo Maia não perdeu a esperança de ocupar o principal gabinete do Palácio do Planalto, caso Temer seja afastado do cargo na esteira de eventual autorização da Câmara para investigar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chefe do Executivo (obstrução à Justiça e organização criminosa).

No momento em que o Brasil chacoalha no vácuo da grave e múltipla crise, que vem provocando a desconfiança da população em relação ao futuro, inclusive fomentando soluções radicais que apontam na direção do retrocesso e do atraso, Rodrigo Maia errou enormemente ao divulgar os tais vídeos. E na há como classificar essa bizarrice comportamental de outra forma, que não como ato criminoso.

Por outro lado, se o sigilo da delação de Lúcio Bolonha Funaro não foi levantado, o ministro-relator não deveria ter enviado ao presidente da Câmara dos Deputados os polêmicos vídeos. Esse imbróglio tem todos os ingredientes para ser interpretado como armação mal combinada. E nesse caso a conta, mais uma vez, acabará no bolso do cidadão.

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