Decadente, imprensa brasileira abusa da fanfarronice ao destacar regalias de Sérgio Cabral na prisão

Cada vez mais utópica e nauseante, parte da imprensa brasileira presta um enorme desserviço à população quando recorre ao sensacionalismo e à fanfarronice para noticiar determinados fatos, como se esse tipo de jornalismo acrescentasse algo positivo à vida dos cidadãos.

O fato de integrantes do Ministério Público Federal (MPF) terem encontrado alimentos não autorizados na cela do ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica (Zonal Sul carioca), não significa que o Brasil é uma versão tropical de algum país nórdico nem que essa transgressão seja exclusividade de Cabral.

Paraíso do “faz de conta”, o Brasil vem assistindo, não é de hoje, à diuturna violação das leis, o que alimenta a sensação de impunidade de criminosos de todos os naipes. Camarão, bolinhos de bacalhau, queijos importados, iogurte e outros itens gastronômicos não fazem de Sérgio Cabral o único preso brasileiro a valer-se do esquema de corrupção que existe no sistema prisional do País. É fato que exceções existem, mas a regra nos presídios nacionais é movida pela ilegalidade.

Viver em democracia é tarefa árdua e para poucos, apesar de a massa ignara pensar na direção contrária. O primeiro quesito a ser respeitado em um regime democrático é o da isonomia no tratamento dispensado aos cidadãos. Esse preceito, que tem status de cláusula pétrea, está no artigo 5º da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.


Como destacou o UCHO.INFO em artigo anterior, foi marcada pelo equívoco a decisão da Justiça que determinou o retorno da advogada Adriana Ancelmo à prisão. Ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, Adriana cumpria prisão domiciliar por conta de dispositivo legal que concede esse benefício a presas com filhos menores de 12 anos. O MPF alegou, no pedido feito à Justiça e que culminou na revogação da prisão domiciliar, que no sistema prisional brasileiros há milhares de mulheres na mesma condição. Ou seja, o MPF, que deveria cobrar a estrita aplicação da lei, defende a socialização do erro.

Voltando ao ex-governador… Tomando por base a linha de raciocínio do MPF, se Sérgio Cabral deve ser transferido a um presídio de segurança máxima e de preferência em outra unidade da federação, antes disso é preciso aplicar a mesma regra a todos os presos beneficiados pela corrupção que reina no sistema prisional do País.

Ademais, é preciso averiguar se os alimentos rotulados como “não autorizados” encontrados na cela de Cabral Filho não foram levados pelos familiares. Às autoridades e à imprensa não cabe classificar tais os alimentos, pois cada família de preso adquire aquilo que cabe no próprio bolso.

Sabem os leitores do UCHO.INFO que nosso papel não é defender políticos corruptos, pelo contrário – coube ao editor do portal fazer as primeiras denúncias que levaram à Operação Lava-Jato –, mas o compromisso com a verdade será mantido independentemente de fatores externos. Não fazemos jornalismo em busca de audiência desqualificada e muito menos para conquistar seguidores, pois acreditamos que a informação, mesmo que amparada por opinião, não pode fugir da realidade dos fatos.

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