As magias do Natal

(*) Carlos Brickmann

A frase é de Lula, nesta terça, no Maranhão: “Todo ladrão tem de ir para a cadeia”. O Maranhão, Estado mais pobre do Brasil, é dirigido pela família Sarney, aliada de Lula, ou pelo PCdoB, aliado de Lula.

O PSDB está dividido, com relação ao Governo Temer, entre o Muro e o Muro do B. O Partido do Muro, chefiado pelo chanceler Aloysio Nunes, aceita tudo, menos descer de lá de cima. O Muro do B, chefiado por quem não tem força no Governo, combinou com o presidente Temer “uma saída elegante”. Como diria Temer, tê-la-ão: o PSDB certamente ficará feliz quando souber que o pé que vai levar no local adequado usa calçados finos.

Sérgio Cabral, PMDB, ex-governador do Rio, condenado em primeira instância a 72 anos de prisão (mas pode me chamar de 30, pena máxima a ser cumprida), presta o Enem nesta semana para História. Cabral, formado em Jornalismo, diz que adora História. Nada mais justo: o Brasil foi descoberto pelo Cabral português, e outro Cabral, carioca, soube pesquisar os tesouros que o país escondia. Tem mais: o estudo permite abater parte da pena. Se o Brasil não mudou, será com certeza um bom abatimento. Quem sabe teremos ainda novas chapas peemedebistas com Cunha e Cabral?

Cabral lembra algo de nossa história. Diz, por exemplo, que não é como Adhemar de Barros, ex-governador paulista que cunhou o slogan “rouba mas faz”.

E não é mesmo: obra de Adhemar podia ser cara, mas era feita.

Bom velhinho sempre vem

Lembra-se do doleiro Lúcio Funaro, envolvido desde 2003 na remessa de dinheiro ilegal ao Exterior? Em 2003, foi apanhado por Moro, mas sabe como é, o tempo passa, o tempo voa e ele foi se mantendo no ramo. Agora, apanhado de novo, delatou muita gente e conseguiu pegar apenas dois anos de pena. Mas vai passar o Natal em casa, porque o bom Papai Noel não se esquece de ninguém. Sai da Papuda nesta semana, seis meses antes de completar os já generosos dois anos com que havia conseguido se safar. Se Funaro, que não pertence a partidos, sai tão cedo, por que outros vão ficar?

Conexão africana

O ex-ministro Antônio Palocci, um dos homens mais importantes do Governo Lula, coordenador da campanha de Dilma, totalmente abandonado pelos companheiros quando foi preso, está concluindo sua proposta de delação premiada, informa a revista Veja. Palocci promete provar que Moamar Khadaffi, ditador da Líbia, deu um milhão de dólares à campanha de Lula em 2002 – dinheiro lavadinho, a fundo perdido, “empréstimo” sem devolução.

Lula chamava o líbio de “irmão”. Khadaffi, ditador da Líbia por 42 anos, foi deposto e morto em 2011. Palocci diz ter outras coisas a contar sobre movimentação ilegal de recursos, mas a de Khadaffi tem um sabor especial: a lei brasileira pune com o cancelamento de registro do partido o recebimento de dinheiro do Exterior. Lula não poderá ser candidato, nem o PT poderá apresentar outros candidatos: o partido talvez seja extinto.

Espada a prêmio

Num dos quatro encontros que teve com Khaddafi, Lula ganhou uma espada de aço e ouro branco, cravejada de pedras preciosas. Ao deixar a Presidência, Lula guardou a espada num cofre do Banco do Brasil, em nome de sua esposa Marisa e do filho Fábio Luís Lula da Silva. A espada foi localizada pelo juiz Sérgio Moro e devolvida ao Tesouro.

Alerta

Quem conhece o empreiteiro Marcelo Odebrecht está convencido de que o período na prisão não o modificou de forma alguma. Como dizia do rei Luís 18 da França o chanceler Talleyrand, após a Revolução Francesa e o período de Napoleão Bonaparte, “nada aprendeu e nada esqueceu”.

A reforma vem chegando

A votação será mesmo apressada, atrapalhada, como aliás é frequente ocorrer em nosso Congresso, principalmente quando se aproxima o recesso. Mas tudo indica que a reforma da Previdência – meio esfarrapada – será aprovada. E talvez seja aprovada até por mais do que se imagina, especialmente se o pessoal mais resistente do PSDB descobrir que, se continuar no muro, vai deixar claro que não teve a menor importância no resultado da votação. É o risco que também corre o PSD de Kassab: assistir à aprovação, deixando claro que, com ou sem PSD, Temer vai vivendo.

Pior do que estava, fica

Não se iluda com a suposta beleza do gesto de renúncia do deputado Tiririca. Em oito anos, é seu primeiro discurso – a primeira vez que nos deixa entrever sua posição política. Levou esse tempo todo desfrutando os benefícios, aliás indecentes mesmo, que agora denunciou. E ainda aproveitou para pagar as despesas de um espetáculo de circo do qual era o astro com dinheiro da Câmara.

Tiririca, ao contrário do que prometeu, não contou o que é que um deputado federal faz. Mas seguiu o exemplo deles.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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