Enfrentando uma das mais graves políticas da história nacional, o presidente Michel Temer, de forma recorrente, comete erros políticos imperdoáveis ao se deixar levar pela ingerência política de aliados não tão probos e pouco confiáveis.
Após a Casa Civil da Presidência anunciar extraoficialmente que o deputado federal Pedro Fernandes (PTB-MA) assumiria o Ministério do Trabalho, em substituição ao demissionário Ronaldo Nogueira, Temer submeteu-se ao caudilhismo criminoso do peemedebista José Sarney e mudou de ideia. A decisão causou mal estar na bancada do PTB da Câmara dos Deputados, exigindo a interferência do presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, para acalmar os ânimos.
Pedro Fernandes, que já se preparava para a posse, foi ministro do Trabalho sem jamais ter sido, apenas porque um adversário político desprovido de moral ousou imiscuir nos assuntos palacianos. Consultado pelo presidente da República, Sarney, que ao longo de cinco décadas transformou o Maranhão no mais miserável estado da federação, vetou a indicação de Pedro Fernandes porque o petebista é ligado ao governador Flávio Dino (PCdoB), inimigo figadal do clã político comandado pelo caudilho da Praia do Calhau.
No momento em que o País condena com veemência políticos envolvidos em escândalos de corrupção, Michel Temer, cuja popularidade continua baixa, não poderia se submeter ao banditismo político de Sarney, que em termos de coronelismo só perde para Vitorino de Brito Freire, que dominou com mão de ferro a política maranhense durante longos anos.
Ademais, o núcleo do Palácio do Planalto continua lutando para conseguir os 308 votos necessários para aprovar a reforma da Previdência na Câmara, mas esse gesto impensado poderá piorar a já difícil situação do governo. Considerando que o responsável pela articulação política do governo, ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), é conhecido pela falta de diplomacia, qualquer previsão acerca do logro de que foi vítima Pedro Fernandes é obra do “achismo”.
Ao ceder à pressão do virulento José Sarney, o presidente da República não apenas mostra a fragilidade moral do governo, mas escancara a dependência do Palácio do Planalto em relação a figuras nefastas que há muito já deveriam ter sido varridas da história política verde-loura. Independentemente da experiência política de Sarney, um governo refém de alguém desse naipe não inspira confiança.
Investigado na Operação Lava-Jato na esteira da bisonha delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, Sarney tenta recuperar o poderio político do seu grupo, projeto que vem exigindo do quase nonagenário ex-senador incursões nada republicanas na seara da política.
Dependendo dos votos do PTB para aprovar a reforma da Previdência e outras medidas do interesse do governo, Michel Temer decidiu manter a pasta do Trabalho como feudo da legenda. De tal modo, Temer recebeu no Palácio do Jaburu o presidente da legenda, Roberto Jefferson, que emplacou no cargo ninguém menos que a filha, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ).
Mensalão do PT
Não se pode esquecer que Roberto Jefferson teve o mandato parlamentar cassado no vácuo do escândalo do Mensalão do PT. Mesmo tendo recebido polpudas e criminosas quantias em dinheiro para apoiar o governo do PT, Jefferson, em dado momento, delatou o esquema criminoso, tendo alertado as autoridades palacianas sobre as estripulias comandadas à época pelo também cassado José Dirceu.
Roberto Jefferson disse, nesta quarta-feira (3), que foi surpreendido pela indicação da filha para assumir o Ministério do Trabalho, mas tudo não passou de um jogo de cena que teve a aquiescência do Palácio do Planalto. Ao deixar o Palácio do Jaburu, onde reuniu-se com o presidente da República, o ex-mensaleiro disse que a indicação de Cristiane Brasil para o cargo representa o “resgate da família”.
Citada na Petrolão
Que ninguém caia nessa esparrela, pois Cristiane Brasil foi citada na delação da Odebrecht como beneficiária de pagamento no valor de R$ 200 mil, através do malfadado caixa 2. Em depoimento Ministério Público Federal, Leandro Andrade, ex-diretor da empreiteira no Rio de Janeiro, afirmou ter repassado, em 2012, a mencionada quantia à nova ministra em um escritório na capital fluminense. Naquele ano, Cristiane Brasil concorreu a um mandato de vereadora.
Segundo o ex-executivo da Odebrecht, o pagamento a Cristiane Brasil fazia parte de acerto costurado com o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ).
“Ela mesma foi retirar esse dinheiro e o que aconteceu é que o portador nosso, o doleiro, demorou a chegar. E ela ficou na antessala do escritório”, declarou Leandro Andrade, que enfatizou em seu depoimento o que classificou como “fato pitoresco”. Cristiane Brasil mostrou-se incomodada com uma câmara de videoconferência instalada no local em que aguardava o pagamento.
“Ela ficou superincomodada, achando que eu estava gravando”, declarou o delator, acrescentando que a petebista perguntou na ocasião se o equipamento estava funcionando. “Percebi o constrangimento, tirei a câmera e botei no chão”, completou.
Não se trata de condenar por antecipação, até porque até então Cristiane Brasil não é alvo de qualquer investigação formal, mas um governo que balança à sombra de seguidos escândalos de corrupção deveria evitar nomeações que provocassem reações da sociedade.
Em suma, o presidente Michel Temer cedeu à pressão de um velho e conhecido caudilho, investigado por corrupção, mas acabou alçando ao Ministério do Trabalho a filha de um ex-mensaleiro.
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