Volkswagen, BMW e Daimler por trás de testes de emissões em humanos e macacos

Um instituto de pesquisa fundado por empresas automobilísticas alemãs financiou experimentos científicos para testar os efeitos da inalação de dióxido de nitrogênio – gás presente em emissões de carros a diesel – em humanos, segundo reportagens divulgadas na imprensa local.

De acordo com os jornais Süddeutsche Zeitung e Stuttgarter Zeitung, o Grupo Europeu de Pesquisas sobre Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT) – organização fundada por Volkswagen, Daimler e BMW e que foi extinta em meados de 2017 – encomendou a pesquisa.

Os jornais afirmam que o estudo intitulado “Inalação de curto prazo de dióxido de nitrogênio por pessoas saudáveis” ocorreu durante um período não determinado entre 2012 e 2015, quando o hospital da Universidade de Aachen examinou 25 pessoas que inalaram quantidades variadas da substância durante várias horas. Segundo o conteúdo da pesquisa, ao qual os jornais tiveram acesso, nenhuma reação foi percebida nos indivíduos.

O objetivo e as conclusões do estudo não foram esclarecidos. A revelação dos experimentos com seres humanos surge em meio à discussão sobre a proibição da circulação de veículos a diesel nos centros urbanos. O debate foi motivado por um escândalo em 2015, quando foi descoberto que a Volkswagen manipulou os dados de emissões de seus automóveis em diversos países para que fossem aprovados em testes de agências reguladoras.

O escândalo manchou a imagem da Volkswagen, com a revelação de que a empresa teria burlado testes de emissão em 11 milhões de veículos mundo afora. A empresa se tornou alvo de investigações na Alemanha e de um processo nos Estados Unidos que lhe rendeu multas no total de 4,3 bilhões de dólares.

Os níveis de dióxido de nitrogênio foram manipulados pela Volkswagen nos EUA durante anos. Segundo a Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha, o composto químico irrita as mucosas nos órgãos respiratórios e seus possíveis efeitos para a saúde humana são tosse, dificuldade para respirar e olhos irritados.

No domingo, a Daimler condenou publicamente a realização dos testes de emissões em humanos. “Estamos chocados com a extensão desses estudos e de sua implementação. Condenamos fortemente os experimentos. Mesmo que a Daimler não tenha tido influência na elaboração do estudo, lançamos uma ampla investigação sobre o assunto”, afirmou a empresa em comunicado.


Na última sexta-feira (26), o jornal americano The New York Times revelou que o EUGT realizou pesquisas em 2014 nas quais dez macacos aspiravam a fumaça de um Volkswagen Beetle. Os primatas foram colocados numa sala vedada assistindo a desenhos animados enquanto inalavam os gases emitidos pelo veículo.

O objetivo seria fornecer argumentos favoráveis ao uso do diesel, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmar que os gases emitidos por esse tipo de combustível são cancerígenos. As montadoras Volkswagen, Daimler e BMW condenaram publicamente a realização dos experimentos envolvendo macacos.

Reação do governo

O governo alemão condenou os testes em humanos e macacos e pediu esclarecimentos. O porta-voz da chanceler Angela Merkel afirmou que experimentos em macacos e seres humanos “não são de forma alguma justificáveis em termos éticos e levantam questões críticas àqueles que estão por trás disso”.

A ministra alemã do Meio Ambiente, Barbara Hendricks, se disse indignada com as denúncias, afirmando que o que se sabe até agora sobre o ocorrido é “abominável”.

“O fato de que toda uma indústria tenha aparentemente tentado se distanciar de fatos científicos com métodos descarados e duvidosos faz com que isso seja ainda mais monstruoso”, afirmou. Ela se disse abalada pelo fato de que cientistas supostamente se dispuseram a acompanhar esses “experimentos repugnantes”.

Christian Schmidt, ministro dos Transportes da Alemanha, afirmou não compreender o motivo de tais testes que “não servem à ciência, mas apenas para objetivos propagandísticos”, disse sobre a tentativa das montadoras de provar que o diesel não é prejudicial à saúde.

Ele pediu que as empresas forneçam respostas “imediatas e detalhadas” e afirmou que uma comissão de inquérito de seu ministério, criada após o escândalo de 2015, fará uma reunião especial para avaliar se há ainda outros casos como esse. (Com agências internacionais)

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