Tiroteio em escola da Flórida reabre o debate sobre a venda indiscriminada de armas nos EUA

Com saldo de 17 mortos, tiroteio em escola da Flórida, nos Estados Unidos, é mais do mesmo. Na verdade, mais parece notícia requentada, tamanha é a recorrência com que esses episódios ocorrem no país.

A falta de controle na venda de armas de fogo em todo o território norte-americano, sob a desculpa de que a Constituição local garante ao cidadão o direito de armar-se para proteger a si próprio e suas propriedades, é uma mostra clara de que é preciso repensar esse conceito.

Eleito debaixo do lobby da indústria armamentista, o presidente Donald Trump fez nesta quinta-feira (15) o primeiro discurso após o ataque protagonizado por Nikolas Cruz, um jovem de 19 anos conhecido pela rebeldia e por sua obsessão por armas de fogo.

Em vez de reconhecer que é preciso proibir a venda de armas para pessoas com perfis comportamentais problemáticos, Trump preferiu creditar a tragédia à saúde mental do atirador, quando deveria culpar o fato de os americanos terem livre acesso ás armas.

“Nenhuma criança ou aluno deveria estar em perigo em uma escola americana”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, que aproveitou a oportunidade para pedir às vítimas e suas famílias para que respondam aos ataques com amor e bondade.

O discurso fácil de Trump não encontra abrigo na realidade, pois os americanos passarão a comprar mais armas a cada novo ataque dessa natureza. Nos últimos anos, a discussão sobre restrição à venda de armas vem ganhando força e espaço na sociedade dos EUA, fruto da indignação da população com os trágicos incidentes.


Ao insistir na necessidade de se priorizar ações para tratar a saúde mental dos cidadãos considerados problemáticos, Donald Trump simplesmente repetiu o discurso proferido após o tiroteio que teve lugar em uma igreja do Texas, em novembro de 2017, e acabou com 26 pessoas mortas. O presidente dos EUA reforçou a tese absurda de que o massacre do Texas teve ligação com a saúde mental do atirador, não com a venda indiscriminada de armas de fogo.

Diagnosticado com problemas mentais, Nikolas Cruz deixou de frequentar a clínica psiquiátrica há mais de um ano. Mesmo assim, Cruz comprou legalmente um fuzil AR-15, havia recebido atendimento psiquiátrico, mas deixara de frequentar a clínica havia mais de um ano. Ele foi detido pelas autoridades duas horas depois do incidente.

A tese absurda de Trump foi reverberada pelo governador da Flórida, Rick Scott, do Partido Republicano, para quem é preciso investir em saúde mental no ambiente escolar. “Acima de tudo, pessoas que têm problemas mentais jamais deveriam ter acesso a uma arma”, afirmou Scott.

No contraponto, políticos americanos que defendem o controle da venda de armas de fogo voltaram a pedir a retomada das discussões sobre o tema. É o caso do senador democrata Chris Murphy, de Connecticut.

“Essa epidemia de massacres em massa, de tiroteios após tiroteios, não acontece em qualquer outro lugar do mundo, a não ser nos Estados Unidos”, afirmou Murphy. “Não é uma coincidência, não é falta de sorte, mas é uma consequência da nossa inação”, completou o democrata.

Para se ter uma ideia do que a venda indiscriminada de armas nos EUA representa, a guerra civil da Síria, que já dura sete anos, matou mais de 320 mil pessoas, ou seja, uma média de 45 mil pessoas por ano. Nos Estados Unidos, mais de 30 mil pessoas morrem anualmente vítimas de armas de fogo.

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