Parceiros comerciais dos Estados Unidos reagiram com irritação ao anúncio do presidente americano, Donald Trump, na quinta-feira (1º), de que vai impor uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio.
O setor siderúrgico se tornou uma das prioridades de Trump, que prometeu reerguer a indústria e combater o que chamou de práticas comerciais injustas, especialmente as da China.
O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, afirmou que a Europa vai retaliar se o governo Trump levar seus planos “inaceitáveis” adiante. “Todas as opções estão na mesa”, disse, e os EUA podem esperar uma resposta “forte, unilateral e coordenada” da União Europeia. “Numa guerra comercial entre Europa e Estados Unidos só haverá perdedores”, afirmou.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou uma “interferência flagrante” de Washington com o objetivo de proteger a indústria americana e afirmou que avaliará nos próximos dias medidas a serem tomadas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Não vamos ficar parados enquanto nossa indústria enfrenta medidas injustas que ameaçam milhares de empregos europeus”, disse.
O governo alemão afirmou que os EUA arriscam desencadear uma guerra comercial com seus aliados mais próximos, o que “não interessa a ninguém”. Steffen Seibert, porta-voz da chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse que a atitude americana afetará a indústria alemã e que medidas unilaterais não resolverão a questão da saturação do aço e do alumínio no mercado global.
Em resposta, Trump afirmou através do Twitter que guerras comerciais são “boas e fáceis de ganhar” quando um país, como os Estados Unidos, tem déficit na balança comercial com outro país. “Pare de negociar – e teremos uma grande vitória. É fácil”, escreveu.
Canadá e Brasil avaliam retaliações
O Canadá, maior exportador de aço para os Estados Unidos, também anunciou que avalia medidas retaliatórias. “Toda a tarifa ou cota que seja imposta à nossa indústria canadense do aço e alumínio será inaceitável”, declarou o ministro do Comércio Internacional, François-Philippe Champagne.
O Brasil, segundo maior exportador, afirmou que poderá contestar a decisão em organismos internacionais. “O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses nesse caso concreto”, afirmou o governo.
A China, principal alvo de Trump, apelou a Washington que desista das medidas protecionistas e “respeite as regras” do comércio multilateral. “A China pede aos Estados Unidos que travem o recurso a medidas protecionistas e respeitem as regras do comércio multilateral”, afirmou Hua Chunying, porta-voz do ministério chinês do Exterior.
“Se outros países seguirem o exemplo [americano], haverá um grave impacto na ordem do comércio multilateral”, afirmou Hua. A porta-voz da diplomacia chinesa disse que os EUA já oferecem uma “proteção excessiva” aos seus produtores de aço e alumínio, tendo adotado “mais de uma centena” de medidas contra a importação dos produtos. Ele não mencionou, no entanto, possíveis represálias por parte de Pequim.
Apesar de os chineses serem responsáveis por apenas 2% das importações americanas de aço, sua enorme expansão industrial contribuiu para a saturação global do produto, levando à redução do preço no mercado internacional.
“A imposição do aumento das tarifas não fará nada além de desestabilizar o comércio e acreditamos que acarretará na perda de empregos”, afirmou, por sua vez, o ministro australiano do Comércio, Steven Ciobo, ressaltando que outras das principais economias mundiais poderão adotar “medidas de retaliação”.
Mercados reagem
Após o anúncio de Trump – que gerou temores sobre aumento dos preços e uma possível batalha comercial com países parceiros, os principais índices de ações dos EUA caíram mais de 1%.
O índice Dow Jones Industrial fechou nesta quinta-feira em baixa de 1,68%. O principal indicador da bolsa de Nova York perdeu 420,22 pontos, ficando com 24,608,98. O seletivo S&P 500 caiu 1,33%, para 2.677,67, e o índice composto da Nasdaq recuou 1,28%, fechando aos 7.180,56.
Nesta sexta-feira, o temor quanto ao agravamento de uma crise no comércio internacional derrubou as bolsas asiáticas, afetando os preços das ações das empresas dos setores siderúrgico e de manufatura que abastecem o mercado americano. O índice japonês Nikkei 225 registrou queda de 2,2%, e o chinês Shangai Composite caiu 0,6%
Os mercados de valores europeus enfrentaram fortes baixas nesta sexta-feira. O índice pan-regional Stoxx 600 abriu com baixa de 0,7%. O Dax, da Bolsa de Frankfurt, caiu 1,7% e o britânico FTSE, 0,6%.
A agência de classificação de risco Moody’s alertou que a medida americana já causa impactos negativos na indústria asiática do aço e observou que as empresas americanas que dependem dessas matérias-primas também devem sofrer com os altos custos. (Com agências internacionais)