(*) Carlos Brickmann
Em velhos, velhos tempos, um dos conjuntos musicais mais populares do Brasil foi o Trio de Ouro: Dalva de Oliveira era a rainha, seu marido Herivelto Martins e Nilo Chagas a acompanhavam.
Nestes dias, o Trio de Ouro, que existia mas não era reconhecido, voltou à tona. O ministro Édson Fachin, do Supremo, mandou incluir Michel Temer num inquérito que investiga dois de seus antigos aliados, Eliseu Padilha e Moreira Franco, ambos ministros – e dos mais importantes. Trio que é trio tem de ter três. E a Operação Lava Jato agora investiga os três a respeito do ouro da Odebrecht, com apoio na delação premiada de executivos da empreiteira. O que se apura são repasses da Odebrecht em troca do atendimento de suas reivindicações na Secretaria de Aviação Civil.
Nos tempos de Rodrigo Janot como procurador-geral da República, não houve investigação sobre Temer, já que o presidente não pode ser acusado por fatos ocorridos antes do início de seu mandato. A doação da Odebrecht, dizem as delações, foi acertada num jantar no Palácio do Jaburu, quando Temer era vice-presidente. Raquel Dodge, sucessora de Janot, acha que o presidente pode ser investigado, sim, embora qualquer ação contra ele só se possa efetivar após o final de seu mandato. O ministro Fachin concordou.
O velho Trio de Ouro acabou quando a Rainha e seu marido se separaram. Apesar das delações, o novo Trio de Ouro está intacto. Ainda.
Jaburu ou Curitiba
A lei fundamental da política é sobreviver; é por isso que, a menos que haja um bom acordo, Michel Temer precisará ser candidato à reeleição. É melhor se candidatar do que correr o risco de depor em Curitiba. Um bom acordo pode ser a nomeação para uma Embaixada de prestígio, ou a garantia de um indulto – como o que o presidente Gerald Ford deu a Nixon. Este processo da Odebrecht é só um dos que Temer terá de enfrentar, sem o foro especial.
Já há o decreto que mudou as normas do setor de portos, que teria beneficiado uma empresa de amigos; há mais duas denúncias suspensas, depois que a Câmara decidiu que só poderão ser investigadas depois de terminado seu mandato. Candidatar-se é mais saudável.
O crime e a pena
O Supremo determinou que R$ 71 milhões encontrados em uma única conta bancária do casal João Santana – Mônica Moura, os marqueteiros do PT, sejam entregues à União. Quem disse onde estava o dinheiro foi o próprio casal, como parte do acordo de delação premiada.
A outra parte do acordo é uma pena bem atenuada, de 4 anos. Ambos ficam um ano e meio em “prisão domiciliar fechada”: não podem sair de casa sem autorização da Justiça. Depois, a pena vai para um ano e meio no regime semiaberto, sempre em casa. Poderão sair de dia para trabalhar e prestar serviços comunitários, mas ficam em casa à noite e nos fins de semana. Por fim, um ano em regime aberto, mas com restrições a saídas em feriados e fins de semana. E, durante a pena toda, não poderão trabalhar, direta ou indiretamente, no Brasil ou no Exterior, em marketing eleitoral.
As prévias de sempre
Todos os partidos aceitam que seus candidatos sejam escolhidos pelos eleitores, em prévias (ou primárias, tradução direta do termo americano). E todos concordam com a beleza das prévias e com sua contribuição para a democracia partidária – exceto, claro, no momento em que alguém insiste em realizá-las. Prévia é para constar no cardápio, jamais para ser servida.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quer suspender a prévia, já marcada, em que enfrentará o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, pelo direito de ser o candidato tucano à Presidência. O prefeito paulistano, João Doria, prefere ser aclamado candidato ao Governo do Estado a disputar prévias. Coisa de tucano? Não: quando Eduardo Suplicy quis disputar as prévias no PT, pleiteando ser candidato à Presidência, queriam liquidá-lo.
Prévia é ótimo, é democrático, desde que ninguém queira realizá-la.
Foto velha
Mais um carnaval com a divulgação de pesquisas eleitorais para a Presidência. Mais um carnaval inútil, pois de que adianta a pesquisa se não há nomes? Caso Lula possa ser candidato, é forte, com boa chance de passar ao segundo turno; caso não possa, o PT fica órfão, sendo forçado a lançar postes – e que tristes postes! – como Fernando Haddad ou Jaques Wagner. Que vão enfrentar um político que tem votos em seu Estado, mas nacionalmente é um poste, como Alckmin. E Temer, como é que fica?
Brasil brasileiro
Temer, pelo jeito, é o novo ídolo de Lula. Em entrevista, Lula diz que Temer conseguiu se livrar do golpe tramado pela Globo contra ele.
E dizem que militares foram flagrados no Rio portando armas de uso exclusivo de traficantes.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.