Ex-agente russo foi envenenado no Reino Unido com substância que afeta o sistema nervoso

A polícia britânica afirmou nesta quarta-feira (7) que o ex-espião russo Sergei Skripal foi envenenado propositalmente com um agente nervoso. Para não atrapalhar as investigações, autoridades do Reino Unido não revelaram a substância usada na tentativa de assassinato e nem como o produto foi administrado.

A Scotland Yard confirmou também que Skripal, de 66 anos, e sua filha Yulia, de 33, seguem em estado grave após entrarem em contato com a substância tóxica no último domingo (4) na cidade inglesa de Salisbury, 120 quilômetros a oeste de Londres. Os dois foram encontrados inconscientes em um banco próximo a um parquinho.

De acordo com o chefe da unidade antiterrorista da polícia de Londres, Mark Rowley, um dos policiais que atendeu os dois no momento do incidente também se encontra hospitalizado em estado grave.
Rowley afirmou ainda que centenas de agentes estão trabalhando para esclarecer o incidente e que o trabalho policial em Salisbury pode prolongar-se por vários dias.

A assessora médica oficial da Inglaterra, Sally Davies, disse que o ocorrido foi “horrível”, mas assegurou que não representa um risco para a saúde e a segurança nacional.

Especialistas citados na imprensa britânica admitem como mais provável tratar-se de um produto químico, e não radioativo, que demoraria mais tempo a atuar. Em Salisbury, a polícia mantém fechados um restaurante num centro comercial e um pub nas proximidades do local onde Skripal esteve com a filha do incidente.


Agente duplo

Skripal é um antigo coronel da espionagem militar russa e foi condenado em 2006 a 13 anos de prisão por alta traição. Ele foi acusado de ter agido a partir dos anos 1990 como um agente duplo, colaborando com os serviços de espionagem britânicos do MI6.

Em 2010, ele foi solto em uma troca com espiões russos que haviam sido presos nos Estados Unidos, em episódio que lembrou antigos casos ocorridos durante a chamada “Guerra Fria”.

Após a troca, Skripal foi levado ao Reino Unido e se instalou em Salisbury, onde aparentemente levava uma vida tranquila. Segundo a imprensa britânica, havia a suposição de que ele teria recebido uma nova identidade, mas registros locais apontam que ele adquiriu uma casa usando seu nome verdadeiro.

O caso fez reavivar a memória no Reino Unido do envenenamento de outro ex-espião russo, Alexander Litvinenko, cuja morte em 2006 lançou luz sobre a perseguição a ex-agentes russos que procuraram refúgio no exterior. Litvinenko foi envenenado com a substância radioativa polônio-210, colocada em uma xícara de chá em hotel de Londres.

Na terça-feira, o ministro britânico do Exterior, Boris Johnson, admitiu a possibilidade de envolvimento da Rússia no caso. “Se a investigação demonstrar a responsabilidade de um Estado, o governo responderá de forma adequada e firme”, disse Johnson na Câmara dos Comuns, num discurso em que qualificou a Rússia de “força nefasta e perturbadora em muitos aspectos”.

Moscou nega envolvimento. A porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, considerou “tais declarações” inaceitáveis e frisou que há “normas, procedimentos, um inquérito, o respeito pela lei”.

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