É dever de qualquer advogado defender seu cliente – remunerado nababescamente ou não – desde que o bom senso seja preservado e a defesa não atropela o conteúdo das provas. Mesmo assim, no Brasil, país em que criminosos do colarinho branco contratam defensores badalados a peso de ouro, alguns advogados tentam desqualificar aqueles que corajosamente enfrentam corruptos e seus comparsas.
Um dos mais requisitados criminalistas do País, Roberto Podval parece ter esquecido como se faz a boa advocacia. Contratado para defender a ex-diretora do Departamento de Iluminação Pública de São Paulo (Ilume), que já foi exonerada, o criminalista disse que as gravações sobre suposto esquema de propina no âmbito da Parceria Público-Privada da iluminação são clandestinas e demonstram “o caráter de quem gravou”.
Podval deveria se inteirar das gravações, feitas a partir de um caso gravíssimo de assédio moral, e repensar se não é o caso de questionar o caráter da denunciada, em vez do da denunciante. À frente de um escândalo complexo que envolveu muito dinheiro para favorecer a empresa FM Rodrigues, líder do consórcio vencedor da PPP, o criminalista tem sobre a escrivaninha um caso de difícil solução, uma vez que as provas são contundentes, destruidoras e conclusivas.
O advogado da ex-diretora do Ilume que se prepare, pois o arsenal de provas é muito maior do que se imagina. Ademais, se o Ministério Público do Estado de São Paulo aceitou as provas como lícitas – e de fato são por conta do flagrante assédio moral – é porque não há questionamentos a se fazer, mesmo que isso seja uma prerrogativa do defensor.
Todo denunciado ou acusado goza do direito à ampla defesa, mas não se pode fechar os olhos e os ouvidos diante de provas irrefutáveis. O caminho seguido pelo MP é tão revelador, que Roberto Podval terá muito trabalho pela frente, já que é impossível negar o inegável.
Sempre na proa de casos polêmicos e de grande repercussão, Podval deveria, em vez de questionar o caráter de quem não conhece, explicar aos brasileiros de bem como o petista José Dirceu consegue pagar os honorários de um dos mais requisitados criminalistas brasileiros.
Não é de hoje que o UCHO.INFO questiona essa misteriosa cornucópia que possibilita o custeio de uma defesa milionária e complexa, mas Podval já afirmou que está a trabalhar de graça para um dos condenados no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.
Os seguidos questionamentos feitos por este portal incomodaram Roberto Podval, que certa feita procurou pessoas ligadas ao editor para fazer chegar o recado de que estávamos estragando o seu negócio. É fato que o advogado não tem responsabilidade pela origem do dinheiro usado para pagar os respectivos honorários, mas em meio à corrupção sistêmica que consome o Brasil é impossível agarrar-se à inocência.
Considerando que José Dirceu não trabalha há anos, que criminalista não madruga para fazer caridade e os honorários cobrados por Podval estão sempre na casa dos sete dígitos, talvez oito, há algo estranho nessa epopeia bandoleira.
Vale ressaltar que o UCHO.INFO não faz jornalismo de encomenda, não tergiversa quando o assunto é corrupção e jamais recua diante de pressão de denunciados e seus caros e badalados prepostos. Tudo o que a imprensa brasileira publicou até o momento sobre o escândalo da PPP da iluminação pública paulistana é apenas a ponta de um iceberg de lama.
O conjunto de ilicitudes e desmandos na órbita do caso é tamanho, que até um conhecido padre é capaz de sofrer algum respingo. Com a palavra, o competente Roberto Podval, desde que não venha com teorias conspiratórias e chicanas jurídicas.