A dicotomia tomou conta das decisões do Partido dos Trabalhadores, em especial após a prisão do ex-presidente Lula, condenado à doze anos e um mês de detenção por corrupção e lavagem e dinheiro no caso envolvendo o polêmico apartamento triplex do Guarujá, no litoral paulista.
Preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde a noite do último sábado (7), Lula está inelegível de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o PT insiste no discurso de que a candidatura será mantida até o último instante, estratégia adotada para evitar a implosão da legenda, que com a ausência do ex-metalúrgico tornou-se campo fértil para dissidências internas.
Outro motivo para manter a candidatura é evitar que os simpatizantes do PT se dispersem, migrando para outros candidatos. Afinal, a figura de Lula se confunde com o PT e vice-versa, o que torna o partido frágil em termos eleitorais.
Para manter esse plano, o PT transferiu a sede do partido para Curitiba, como se essa decisão mudasse a dura realidade enfrentada pelos “companheiros”. Ou seja, o PT tenta passar à opinião pública uma realidade que simplesmente inexiste.
A dualidade discursiva do PT surge na intersecção da mudança da sede da legenda e da esperança depositada em uma decisão do STF contra a prisão após condenação em segunda instância. Ora, se a prisão de Lula é inconstitucional, como alegam os defensores do petista e todos os “companheiros”, não há porque titubear diante da decisão a ser tomada pelo Supremo.
Como cresce a possibilidade de o STF não analisar a matéria no momento ou até mesmo de um ministro apresentar pedido de vista, o que deixaria o assunto para as calendas, não se deve descartar a hipótese de que os petistas assimilaram a derrota e internamente começam a jogar a toalha.
Ademais, a milionária defesa de Lula, que ninguém sabe como é remunerada, é desdenhada por essa precipitada decisão, pois os advogados também insistem na tese de que a prisão do petista-mor é ilegal e passível de reversão.
Há nesse cenário um sem fim de pontos desconexos. Se a candidatura de Lula está mantida e a prisão é ilegal, mudar a sede do partido é no mínimo descabido. Ou então, a cúpula petista decidiu enganar a militância com discursos farsescos para evitar que o partido desapareça nas próximas eleições.