Réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e obstrução à Justiça, o senador mineiro Aécio Neves está com disposição de sobra para mandar pelos ares o PSDB, que depois de anos de discursos moralistas foi apanhado por uma avalanche de escândalos.
Depois de o presidente dos tucanos, Geraldo Alckmin, solicitar a Aécio que, em função da repercussão do caso de cobrança de propina ao dono do grupo J&F, desistisse de concorrer à reeleição – ou a uma vaga na Câmara dos Deputados – o senador resolveu partir para o confronto.
Aécio Neves, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, afirmou que sua candidatura será decidida “coletivamente” em Minas Gerais. “Tenho acompanhado o esforço do Alckmin para fortalecer a candidatura dele e torço para que ele tenha êxito porque será o melhor para o Brasil. Quanto à minha candidatura, ela será decidida coletivamente em Minas Gerais, como sempre ocorreu e no momento certo”, disse o senador.
Se por um lado nenhum cidadão tem o dever de confessar a própria culpa, por outro Aécio tem o direito de tentar salvar sua combalida carreira política, mas é preciso doses de bom senso diante da realidade dos fatos.
Após o STF aceitar a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República, o senador mineiro disse que recebeu a decisão com “absoluta tranquilidade. Aécio pode até querer enganar a opinião pública, mas nenhum político aceita de forma passiva uma decisão como a da Primeira Turma do Supremo.
Na sequência, o tucano afirmou aos jornalistas que cobrem o cotidiano do Senado: “Terei oportunidade que não tive até aqui de poder provar de forma clara e definitiva a absoluta correção dos meus atos”.
Aécio Neves abusou da ousadia ao fazer tal declaração, pois é impossível falar em “correção dos atos” quando a gravação feita por Joesley Batista deixa claro que o senador cobrou propina de R$ 2 milhões para atuar em favor do grupo empresarial no Congresso.
Não contente com o introito mentiroso, Aécio foi além e disparou: “Estou sendo processado por ter aceitado empréstimo de um empresário, portanto recursos privados de origem lícita para pagar meus advogados. Não houve dinheiro público envolvido, ninguém foi lesado nessa operação”.
O senador do PSDB pode dizer o que quiser, pois a Constituição garante ao cidadão a livre manifestação do pensamento, mas transformar propina milionária em empréstimo para pagar advogados é desdenhar a capacidade de raciocínio dos brasileiros.
Se realmente o pedido feito a Joesley fosse de empréstimo, o valor deveria ser transferido através de transação bancária, não em dinheiro vivo acondicionado em malas. Não obstante, Aécio disse na gravação, abusando da jocosidade, que o melhor seria escalar o próprio primo (Frederico Pacheco) para receber o valor, pois era possível mata-lo antes de eventual delação.
Qualquer político minimamente coerente já teria desistido da reeleição, mas Aécio Neves insiste no tema porque sabe que sem o foro privilegiado o caminho até a prisão fica bem mais curto.
Sobre o dinheiro para pagar os advogados que o defendem no âmbito da Operação Lava-Jato, Aécio deveria ter escolhido um profissional do Direito menos badalado. Ao contrário, o senador contratou um dos mais renomados criminalistas do País, cujos honorários gravitam na órbita dos sete dígitos ou mais.
Em suma, a teimosia de Aécio Neves em relação à candidatura é mais um punhado de condimento no caldeirão de escândalos que tira o sono da cúpula do PSDB, partido que enfrentará sérias dificuldades nas eleições de outubro próximo e corre o risco de encolher.