Pesquisadores encontram níveis recordes de microplásticos no gelo do Oceano Ártico

Cientistas alemães anunciaram nesta terça-feira (24) a descoberta de quantidades recordes de microplásticos no gelo do oceano Ártico, o que pode representar um perigo para a vida marinha da região quando esse gelo vir a derreter devido às mudanças climáticas.

A equipe do Instituto Alfred Wegener (AWI, na sigla em alemão) identificou 17 tipos diferentes de plástico em extensas amostras de gelo coletadas durante três expedições ao Ártico a bordo da embarcação Polarstern – própria para explorar regiões geladas – entre 2014 e 2015.

Entre os microplásticos encontrados havia restos de sacolas e embalagens de alimentos, tintas de navios, redes de pesca, nylon e poliéster derivados de tecidos sintéticos e filtros de cigarro.

As amostras analisadas continham até 12 mil partículas de microplásticos por litro de água congelada. Essa medida é duas a três vezes maior do que qualquer outro nível já registrado na região, apontaram os pesquisadores em estudo publicado na revista científica “Nature Communications”.

Pesquisas anteriores já haviam alertado contra os perigos da presença de microplásticos para centenas de espécies de animais selvagens que vivem nos oceanos. O novo estudo alemão, contudo, ampliou essa preocupação ao descobrir níveis recordes.

“Com as mudanças climáticas, isso sugere que o derretimento do gelo marinho provavelmente está liberando grandes quantidades de microplásticos no meio ambiente”, afirmou a bióloga Chelsea Rochman, da Universidade de Toronto, em entrevista à Deutsche Welle.

“Muitas vezes pensamos na liberação de metano com o derretimento do gelo, mas agora devemos considerar também os microplásticos”, advertiu a especialista.


Plásticos na cadeia alimentar

Segundo Ilka Peeken, bióloga do AWI e coautora do mais recente estudo, o gelo marinho funciona como uma espécie de “transporte” de microplásticos, o que aumenta seus impactos.

À medida que o gelo chega às partes mais quentes do Atlântico, por exemplo, e vem a derreter, ele deixa um rastro de partículas de plástico que se agarram às algas e ficam incrustadas no fundo do oceano. O maior perigo disso, segundo Peeken, é que esses poluentes acabam sendo rapidamente absorvidos na cadeia alimentar.

“Percebemos que mais da metade dos microplásticos presos no gelo tinham menos de um vigésimo de milímetro de largura”, afirmou a bióloga à DW. “Isso significa que eles podem ser facilmente ingeridos por microorganismos, como pequenos crustáceos dos quais os peixes se alimentam.”

Os cientistas ainda não sabem ao certo os reais efeitos dos microplásticos consumidos por organismos marinhos e transportados através da cadeia alimentar. Enquanto algumas criaturas conseguem ingerir detritos plásticos sem qualquer efeito nocivo conhecido, os mexilhões, por exemplo, podem sofrer inflamações.

De acordo com Peeken, o fato de crustáceos estarem ingerindo microplásticos antes de serem consumidos como alimento por seres humanos pode gerar possíveis “implicações para a saúde humana”, ainda não totalmente conhecidas pela ciência.

Em 2014, um estudo já havia mostrado evidências de microplásticos no gelo do mar Ártico ao analisar amostras individuais coletadas na região. A nova pesquisa alemã, no entanto, é a primeira a usar sensores infravermelhos para verificar áreas inteiras de gelo. A tecnologia permitiu que os cientistas do AWI descobrissem uma concentração muito maior do que antes se pensava.

De acordo com o grupo ambientalista WWF, 8,8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos todos os anos – o que equivale à carga completa de um caminhão de lixo por minuto. Se continuar assim, em 2050 haverá mais plástico do que peixes no mar, alertou a ONU. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)

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