Teólogo e responsável pela divulgação no Brasil da “Teologia da Libertação” – corrente cristã que parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres –, o comunista Leonardo Boff abusa do devaneio ideológico ao fazer considerações sobre Lula, que cumpre pena de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Após visitar o petista na cela VIP preparada pela PF, onde deu assistência espiritual ao seu “companheiro” de esquerdismo, Boff disse que o ex-presidente da República está preso em uma solitária, podendo conversar apenas com os agentes que entregam suas refeições e o levam para os diários banhos de sol.
O teólogo tem o direito de pensar o que quiser, assim como é livre para externar o próprio pensamento, mas não pode querer que suas palavras sejam amalgamadas como a máxima das verdades. Comparar uma cela especial a uma solitária é oportunismo barato ou ignorância completa. Talvez Boff necessite passar longa temporada em uma solitária para compreender o real significa desse tipo de encarceramento.
Diferentemente de outros presos, o que contraria o princípio constitucional da isonomia de tratamento aos cidadãos diante da lei, Lula cumpre pena de prisão a reboque de privilégios absurdos, como, por exemplo, visitas semanais de familiares e “companheiros” – o que lhe permite comandar o PT de dentro da cadeia –, assistência espiritual, visitas de médicos particulares, esteira ergométrica e outros mimos que violam a legislação vigente.
A exemplo do que ocorre com certa frequência na seara da esquerda nacional, Leonardo Boff esqueceu de combinar o palavrório com Lula, pois a esdrúxula comparação é inaceitável. Aliás, o teólogo aniquila o próprio discurso, marcado pela vitimização, ao afirmar que Lula encontra-se bem e é “candidatíssimo”.
Por mais forte que seja a personalidade de um detento, a permanência em uma solitária produz danos psicológicos, os quais Lula não apresenta. Aliás, quem está atrás das grades e exige frigobar com cerveja não enfrenta problemas da psique. E se o petista-mor está bem, como garante Boff, é descabida a comparação depreciativa envolvendo a cela na PF.
Sobre a aludida solitária, a verborragia vitimista de Boff perde força à sombra da defesa de Lula, que diante da possibilidade de transferência do ex-metalúrgico para um presídio solicitou à Justiça para que ele permaneça onde se encontra. Até porque, no sistema prisional a palhaçada lulista não encontrará picadeiro.
Em relação ao fato de ser “candidatíssimo”, sonhar é de graça e não paga impostos. Por isso Lula pode continuar afirmando que continua candidato à Presidência da República, como se a Lei da Ficha Limpa fosse um inócuo amontoado de letras jurídicas.
Mas Boff trouxe outro recado de Lula, que afirmou ao teólogo “ter uma indignação justa, de quem sofre por causa de falsificações, distorções e mentiras com o objetivo de liquidar a candidatura dele e enfraquecer o mais possível o PT”.
A anorexia política do PT decorre do maior escândalo de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, e dos crimes cometidos pela “companheirada”, que não se conteve diante do dinheiro sujo. Em relação a “distorções e mentiras”, Lula teve garantido o direito à amplíssima defesa e ao devido processo legal, ou seja, nada do que vem sendo falado encontra guarida no universo da verdade.
Há um mês na prisão, Lula em breve se acostumará com sua nova realidade, deixando de lado a fancaria discursiva. Até porque, a revolta popular anunciada pela senadora Gleisi Helena Hoffmann, presidente nacional do PT, não aconteceu no rastro da prisão do alarife do Petrolão.
Em suma, aproveitando que Lula estreou no universo da leitura, nada melhor do que debruçar-se sobre a Divina Comédia, do genial Dante Alighieri, e dar especial atenção à frase “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança…”, cunhada à porta do “Inferno”.