(*) Carlos Brickmann
Geraldo Alckmin e Temer conversaram por telefone sobre a chance de unir as forças para, aliados, ter melhores condições de participar da eleição. Marcaram uma conversa pessoal para os próximos dias, mas já desistiram: afinal de contas, para unir forças é preciso ter forças. Coisa de que, agora, nenhum dos dois dispõe. Alckmin ainda tem esperança de crescer ao longo da campanha: embora não seja nenhum campeão de popularidade, ganhou muita eleição majoritária em sua carreira. Temer, não: nunca teve muitos votos, nunca se candidatou a um cargo executivo, e embora tenha nas mãos a máquina da Presidência, não consegue sequer ser reconhecido pelo que aconteceu de bom, como a queda da inflação e a recuperação da Petrobras. Aliás, nem quer muito ser presidente de novo: quer mesmo é manter o foro privilegiado e se livrar dos juízes de primeira instância.
Já as chances de Alckmin dependem de uma série de fatores: o principal é chegar ao segundo turno, de preferência contra Bolsonaro ou o candidato de Lula. Aí, espera ter o voto útil dos que rejeitam seus adversários.
Alckmin já chegou uma vez ao segundo turno; mas enfrentava o melhor candidato do PT, Lula, e num momento em que Lula tinha convencido boa parte do eleitorado de que se transformara no Lulinha Paz e Amor. Fora isso, Lula tentava a reeleição, e tinha a máquina do Governo. Alckmin levou uma surra histórica. Mas enfrentando alguém mais fraco, quem sabe?
Horror, horror
Temer tem duas denúncias no Supremo e um inquérito (que, por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, prosseguirá por mais 60 dias, até julho). Problemas um atrás do outro. E, a menos que seja reeleito, apesar da chance mínima, terá pela frente Sérgio Moro ou alguém do mesmo calibre.
Crescendo
Lula não é candidato, embora diga que é. A alternativa petista a ele, Fernando Haddad, foi pesadamente atingida pela delação premiada de João Santana e Mônica Moura, seus marqueteiros da campanha para prefeito. Joaquim Barbosa pensou melhor e desistiu da candidatura: se as costas lhe doíam tanto que o levaram a se aposentar do Supremo, doerão também se for presidente. E histórias como a do apartamento de Miami, de problemas familiares e outras, verdadeiras ou falsas, surgirão no moedor de carne que é uma campanha eleitoral. Melhor dar pareceres e ficar sossegado.
No campo que se classifica como “de esquerda”, só Ciro Gomes vai crescendo. É um nome para se prestar atenção – desde que pense bem no que fala. Já perdeu muitos pontos, apesar de ter carisma, dizendo algo que pegou mal.
Sonhar…
Nos meios políticos, excetuando-se setores mais radicais, ninguém está satisfeito com a prisão de Lula. Há quem ache que a prisão só o favorece, há quem sustente que divergência política deve ser resolvida por meios políticos, e que ele deveria ser punido de maneira menos dura, com devolução do que for possível recuperar e proibição de se candidatar. E há quem tema pelo próprio futuro: se Lula, que desperta devoções profundas, vai preso, que acontecerá com outros líderes sem o seu prestígio? Em outras palavras, é bom protegê-lo, pois protegê-lo é sinônimo de proteger-se. Mas há um problema: é preciso mudar a lei de tal maneira que Lula seja só um dos beneficiados. Beneficiá-lo diretamente seria hoje impensável.
…um sonho possível
A melhor maneira de beneficiá-lo indiretamente, até o momento, é a que surgiu em dois dos votos do Supremo que reduziram o número de políticos favorecidos pelo foro privilegiado. A ideia é que, condenados em primeira instância, e confirmada a condenação em segunda instância nos tribunais regionais federais, só possa ocorrer a prisão depois de julgados os embargos e apelações – no que vem sendo chamado de terceira instância. Com isso, estariam livres Eduardo Cunha, Palocci, Vaccari – e Lula.
Petrobras crescendo
Boas notícias da Petrobras: o lucro do primeiro trimestre, R$ 6,9 bilhões, é alto. A alavancagem (investimentos com recursos de terceiros) caiu de 60%, no quarto semestre de 2015 – governo Dilma -, para 49%.
Como dizia John D. Rockefeller, o lendário criador da Standard Oil (Esso), o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada. E o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada. Rockefeller jamais pensou na possibilidade de uma empresa de petróleo ser impiedosamente ordenhada.
Calma, Cuoco!
O ator Francisco Cuoco, 84 anos, paga R$ 5 mil por mês pelo plano de saúde. É muito, mas há planos mais caros. A Agência Nacional de Saúde deixa que as operadoras só ofereçam planos coletivos, cujo reajuste é livre. O plano individual, reajustado pela alta dos custos, sumiu do mercado.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.