No Brasil, a Justiça tarda, mas não falha. Isso reforça o dito popular “aqui se faz, aqui se paga”, mesmo que muitos brasileiros duvidem dessa profecia. O importante nesse modorrento processo é que a legislação está sendo cumprida à risca, não deixando aos acusados espaço para contestações acerca do trâmite processual.
Com o processo contra o deputado federal paranaense Nelson Meurer (PP), que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes cometidos descobertos no âmbito da Operação Lava-Jato, ter alcançado o plenário da Segunda Turma do STF, o ministro Celso de Mello deve liberar para julgamento a ação penal contra a presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Helena Hoffmann, e de seu marido, Paulo Bernardo da Silva, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, também por cometidos no escopo do Petrolão.
A ação penal contra Gleisi Helena, que foi mencionada nas planilhas de propina da Odebrecht sob o sugestivo codinome “Amante” – o do marido é “Filósofo” – deve ser liberada para julgamento no final de maio, possivelmente no dia 28.
O caso está em fase final de análise e de elaboração de voto. Revisor das ações decorrentes da Lava-Jato no STF, o ministro Celso de Mello tem a incumbência de conferir o trabalho do relator, ministro Luiz Edson Fachin, analisar aspectos processuais e técnicos e devolver a ação para que possa ser agendado o julgamento.
Gleisi, como sabem os leitores, nega os crimes, mas os depoimentos de sete delatores não deixam dúvidas a respeito do envolvimento da senadora paranaense no maior e mais acintoso esquema de corrupção de que se tem notícia, o Petrolão.
A presidente do PT, que estufa os brônquios para destilar sua suposta inocência, está a poucos passos de uma condenação criminal, podendo tornar-se inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, caso o desfecho do caso seja célere. Se esse cenário se confirmar, Gleisi Helena perderá o foro privilegiado, ou seja, terá de responder às ações penais em que é ré na primeira instância do Judiciário. Em outras palavras, a senadora petista terá de enfrentar o juiz Sérgio Moro, a quem dedicou tantos impropérios.
Por outro lado, se Gleisi conseguir registrar sua candidatura às eleições gerais de outubro próximo, é preciso considerar a possibilidade de a petista não se eleger. Diante dos escândalos de corrupção que derretem o Partido dos Trabalhadores, a popularidade da parlamentar em seu estado despencou de forma vertiginosa. Tanto é assim, que Gleisi Hoffmann há muito considera a hipótese de concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, porque tentar a reeleição ao Senado é derrota na certa.