Os índices de infecção pelo vírus HIV estão aumentando entre a população idosa. Em dez anos, o número de idosos com HIV no Brasil cresceu 103%, segundo dados do Ministério da Saúde. A falta de informação e de discussão do assunto é uma das barreiras a serem vencidas.
Uma pesquisa feita em 2013 com 12 mil pessoas mostra que, na população de 50 a 64 anos, 50,8% acham que não correm risco de infecção pelo HIV. E apenas 24% ganharam preservativos em campanhas de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis.
A incidência do HIV entre idosos foi discutida pela Comissão da Câmara que trata dos direitos das pessoas que têm mais de 60 anos. Um mito recorrente é o de que os mais velhos não têm vida sexual. E quando têm, ela é vista como inadequada. A deputada Carmen Zanotto (PPS-SC), que propôs o debate, é enfermeira e se preocupa em saber como os idosos estão sendo recebidos nas unidades de saúde.
“Quando se olha para um idoso sexualmente ativo como promíscuo, está se cometendo um grave equívoco. A gente precisa trabalhar muito os profissionais de todas as áreas, em especial a equipe multiprofissional da saúde, para o acolhimento diferenciado em qualquer que seja dos ambientes”, disse ela.
Falta de informação e preconceito colaboram para que muitos diagnósticos sejam feitos tardiamente. A descoberta da doença em uma fase mais avançada, segundo a infectologista Valéria Paes, prejudica particularmente a saúde do idoso.
“Alguns medicamentos interferem nos exames de colesterol, de triglicerídeos, alguns podem afetar a parte renal, a parte óssea, então o que já estava em curso, o que é uma evolução normal do envelhecimento, pode acontecer de uma forma mais acelerada com o uso dos medicamentos e com o próprio vírus”, afirmou Valéria.
O presidente da ONG Amigos da Vida, Christiano Ramos, que tem o vírus HIV há 32 anos, relata qual é a reação do idoso que é infectado: “Quando ele se descobre portador do HIV, ele chega lá na ONG num desespero, achando que vai morrer, que tem poucos dias de vida. Por quê? Esse paciente viveu a década de 80, quando as pessoas tinham uma expectativa de vida de cinco meses.”
De acordo com Gerson Pereira, um dos representantes do Ministério da Saúde na audiência pública, essa sobrevida de cinco meses era a realidade dos portadores do vírus HIV em 1983, quando o primeiro caso foi registrado no Brasil. Atualmente, as pessoas infectadas têm uma expectativa de vida semelhante a quem não tem o vírus, apenas seis meses menor. (Com Agência Câmara)